sexta-feira, 22 de agosto de 2025

The Doors - Strange Days

The Doors - Strange Days
Gravado em oito canais no mês de agosto de 1967, no Sunset Sound Studios #1 (Hollywood, CA). Lançado oficialmente nos EUA no dia 25 de setembro de 1967. Produzido por Paul A. Rothchild. No mesmo ano em que haviam invadido os EUA com seu primeiro disco e com o single de grande sucesso Light My Fire, os Doors prepararam seu segundo trabalho, Strange Days. Dessa vez, contaram com equipamentos de alta tecnologia (para a época) e puderam realizar uma das primeiras gravações da história feitas a oito canais de áudio. Mesmo não tendo conseguido atingir o mesmo impacto que o disco The Doors causou na mídia, lançou canções de sucesso popular (People Are Strange e Love Me Two Times) e vários clássicos da banda (principalmente When the Music's Over), além de faixas pouco conhecidas, como You're Lost Little Girl e I Cant See Your Face In My Mind, que podem facilmente entrar na lista das melhores do grupo.

Apesar de manter o mesmo estilo que havia sido consagrado no disco de estreia, Strange Days tem menos influências de blues que seu antecessor, dando mais ênfase ao lado sombrio das composições, os "dias estranhos" do título e da capa. Mas, passando por cima de todos esses detalhes, "Strange Days" foi ganhando status ao longo do tempo e hoje é considerado pelos especialistas como o melhor disco da banda. O trabalho mais artístico dos Doors, sem dúvida. Começando pela capa, em estilo nitidamente europeu, pelo som que se tornou único dentro da história do conjunto e pelo conteúdo das letras, que ficaram mais elaboradas do que nunca. Jim considerava "Strange Days" o ponto alto da discografia do quarteto, tanto que sempre o utilizava como paradigma em relação aos outros discos. A ideia da capa circense, inclusive, foi sugestão do próprio cantor que não queria aparecer novamente ao lado de seus colegas de banda, como ocorreu no disco de estreia. Mas a ideia do circo europeu com malabaristas, artistas e cartomantes, foi na verdade a segunda ideia de Jim. A primeira? Morrison queria que os Doors fossem cercados por trinta cães. Quando perguntado de onde ele tinha tirado uma ideia tão surreal, Jim respondeu que tudo seria uma metáfora, pois cão (dog) é o inverso de Deus (God)! Vai entender...

Singles nas lojas:

People Are Strange / Unhappy Girl - Em Setembro de 1967 os Doors lançaram este primeiro single extraído de "Strange Days". O Lado A é o ponto forte com uma canção que entraria definitivamente na história do grupo. Na realidade "People Are Strange" já havia sido composta há muito tempo, antes mesmo até do grupo se formar. Só ficou fora do disco de estreia por pura falta de espaço. Melhor assim. Aqui ele ganhou o veículo perfeito para sair das trevas dos arquivos dos Doors. A canção do Lado B não acompanha o alto nível artístico do lado A. Mas também não faz feio. Cumpre tabela.

Love Me Two Times / Moonlight Drive - Dois meses depois do primeiro single chegar nas lojas, em novembro de 1967, os Doors invadem novamente as lojas com esse segundo single. A ordem das músicas deveria ter sido invertida, porque sem dúvida, "Moonlight Drive" é bem superior que "Love Me Two Times", essa apenas uma música feita para tocar nas rádios. De certa forma o tempo fez justiça, pois "Moonlight Drive" é uma das mais conhecidas músicas dos Doors e sua parceira de single caiu na vala comum do anonimato. Com um lado excepcional e o outro apenas regular, esse single leva uma nota sete por seu valor musical e passa por média.

Strange Days
E então chegamos em "Strange Days", um dos álbuns mais marcantes do grupo. Foi o segundo dos Doors no selo Elektra Records. Também foi um dos mais esperados, por causa da grande repercussão do primeiro disco. Jim Morrison deu esse título ao álbum porque em sua opinião aqueles dias em que os Doors começaram a fazer sucesso foram dias estranhos. Afinal em poucas semanas Jim passou de um perfeito estranho que perambulava pela Venice Beach a um superstar internacional. Eram dias loucos em sua opinião.

Foi também uma mudança de conceito da banda, a começar pela capa. Jim não havia gostado da capa do primeiro disco. Para ele era algo vulgar demais colocar apenas a foto dos membros do conjunto. Por isso ele mandou que se fizesse algo mais artístico, diria até circense. Para a sorte dos Doors um grupo de artistas de circo foram encontrados nos arredores de Los Angeles. São eles que estão na capa do disco, em poses de picadeiro. Também eram bem representativos desse mundo, com o homem de super força, o anão e a cartomante. Além é claro do malabarista. Tudo o que Jim queria!

"Strange Days" foi muito bem recebido pela crítica. Os Doors que não se enquadravam em estilo nenhum, davam mais um passo rumo a uma identidade musical bem própria. Além disso Jim ainda era jovem e seu apelo sexual junto às fãs mais jovens garantia shows lotados, concertos com ingressos esgotados e bons números de vendas de cópias de seus discos nas lojas. Tudo correndo muito bem para eles naquela fase de sua carreira. Os monstros interiores de Morrison ainda não tinham se revelado para o público.

Pablo Aluísio

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Rolling Stones - 12 X 5

Rolling Stones - 12 X 5
Assim como aconteceu com os Beatles os primeiros discos dos Stones nos Estados Unidos eram bem diferentes da discografia inglesa. Os americanos, mais experientes em marketing, montavam seus próprios discos, geralmente misturando faixas de álbuns diversos dos originais ingleses. "The Rolling Stones - 12 X 5" vai justamente por esse caminho. Foi o segundo disco de estúdio do grupo e foi lançado nos EUA por dois motivos básicos: o primeiro, não se pode negar, foi o imenso interesse que os americanos tinham na época pelo rock inglês após a passagem avassaladora dos Beatles pelo país em sua histórica turnê.

A segunda era o interesse despertado pelos Stones por causa de seu primeiro bom disco lançado na América, esse que animou a gravadora a continuar apostando nos cinco britânicos. O nome do álbum é uma alusão justamente a eles, 12 canções executadas pelo quinteto - 12x5. Seguia o mesmo padrão de um compacto duplo que havia sido lançado recentemente com apenas cinco músicas - intitulado, vejam só, como 5x5.

Por essa época os Stones fizeram sua primeira turnê americana, bem mais modesta e desorganizada do que a dos Beatles. Alguns shows mal agendados, palcos indignos e desinteresse da imprensa foram aspectos negativos que prejudicaram os concertos. Como eram fãs de Blues e Rythm and blues aproveitaram para conhecer alguns de seus ídolos musicais como Muddy Waters, gravando no histórico estúdio da Chess Records em Chicago. Como já afirmei antes sobre as primeiras gravações dos Rolling Stones nem sempre os primeiros registros da banda foram bem realizados do ponto de vista técnico no começo de sua carreira. Os engenheiros de som americanos perceberam isso e fizeram as faixas passarem por um tratamento de remasterização, algo que foi muito positivo pois qualquer disco americano do grupo é muito superior ao que ouvimos nos discos prensados na Inglaterra no mesmo período.

"The Rolling Stones - 12 X 5" prova bem isso. Os instrumentos são bem nítidos, a equalização entre voz e acompanhamento é extremamente superior a qualquer outra coisa que ouvimos nos vinis ingleses. Esse é enfim o grande mérito desses álbuns Made in USA. Se tiver que escolher entre ouvir um vinil inglês ou americano dos Stones pela Decca ou London Records não perca muito tempo, prefira sempre os bolachões do Tio Sam, com certeza.

The Rolling Stones - 12 X 5 (1964)
Lado A
1. Around and Around
2. Confessin' the Blues
3. Empty Heart
4. Time Is on My Side
5. Good Times, Bad Times
6. It's All Over Now
Lado B
1. 2120 South Michigan Avenue
2. Under the Boardwalk
3. Congratulations
4. Grown Up Wrong
5. If You Need Me
6. Susie Q

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

The Beatles - With The Beatles

A primeira composição de George Harrison a entrar em um álbum dos Beatles foi justamente essa gravação de "Don't Bother Me" que ouvimos nesse disco. Claro que com os anos George iria melhorar muito em termos de melodia e letra, mas aqui já demonstra bons sinais de seu talento. Não é uma grande canção, diria que é até mesmo uma criação básica, mas que serviu para quebrar o gelo. Além disso trazia em sua letra aspectos da própria personalidade do "Beatle quieto", afinal uma música que tinha uma mensagem de "Não me perturbe" não poderia ser mais característica do Beatle. Enquanto Paul sempre trazia o lado mais romântico e otimista e John surgia com o rock mais ácido e pessimista, George fazia contrabalanço aos dois, tentando aparecer e se esconder ao mesmo tempo no meio dos dois gênios.

"All My Loving" provavelmente seja uma das canções mais populares desse álbum. Embora muitos a associem a Paul exclusivamente, essa foi uma criação a quatro mãos, com Paul e John trocando ideias face a face. Claro que a letra foi criada quase que exclusivamente por McCartney, baseada em seu relacionamento com a atriz Jane Asher, porém John apareceu dando importantes dicas no desenvolvimento da melodia em si. Para John a canção tal como fora apresentada pela primeira vez por Paul nos estúdios Abbey Road ainda não tinha o pique necessário. Foi John então que a acelerou um pouco, trazendo mais vida para a música. Ficou excelente após a colaboração de Lennon. George Martin decretou após ouvir o primeiro ensaio: "É isso, está perfeita, vamos gravar!". Voltando para a letra seria interessante dar uma olhada em seus versos: "Feche os olhos e eu te beijarei / Amanhã sentirei sua falta / Lembre-se que sempre serei verdadeiro / E quando eu estiver longe / Vou te escrever todo dia / E mandar todo meu amor pra você / Vou fingir que estou beijando / Os lábios dos quais sinto falta / E torcer para meus sonhos virarem realidade".

Eu poderia classificar esse tipo de sentimento presente na letra como um amor adolescente, algo que poderia ter sido escrito por um colegial apaixonado pela garota da escola. Não estou escrevendo isso para desmerecer Paul como letrista, mas sim para salientar como é também arriscado escrever canções de amor para o público jovem. Paul, como bem demonstrou o sucesso da balada, acabou acertando em cheio. Até porque o público dos Beatles por essa época era formado basicamente por jovens histéricas que gritavam pelos membros do grupo nos shows. Foi justamente para essas fãs que Paul escreveu essas palavras. Nada mais complicado do que captar o sentimento dessas garotas em versos e melodia.

Desde o primeiro álbum os Beatles sempre deixavam uma música, geralmente a mais simples, para o baterista Ringo Starr cantar. Virou uma tradição que foi sendo seguida até o último disco. Embora Ringo não tivesse um grande talento vocal, seu timbre de voz era interessante, ideal para rocks mais agitados ou então músicas com sabor country and western. No caso do "With The Beatles" Paul e John reservaram para ele a agitada "I Wanna Be Your Man" que inclusive acabou virando um ponto alto também nos concertos ao vivo do grupo. Ringo sempre muito animado criava um verdadeiro frisson entre as fãs quando mandava ver na apresentação dessa canção. O interessante é que os Beatles não foram os primeiros a gravarem a canção. John Lennon havia dado de presente aos Rolling Stones a música. Eles a gravaram e a lançaram em fins de 1963.

O single com "Not Fade Away" no Lado A foi um dos primeiros sucessos do grupo de Mick Jagger. Talvez esse sucesso todo tenha incomodado um pouco John que resolveu que os Beatles iriam colocá-la em seu novo álbum, algo que os Stones não esperavam. Em entrevistas feitas anos depois John Lennon deixou escapar um certo ressentimento pelo fato dos Rolling Stones terem feito sucesso com uma canção escrita por ele. Chegou até mesmo a desmerecer a música, dizendo que nunca daria algo realmente bom para os Stones gravarem. Foi algo meio rude de sua parte.

"Roll Over Beethoven" era um cover dos Beatles para um velho sucesso de Chuck Berry. Não era surpresa para ninguém que os Beatles adoravam a primeira geração do rock americano, com destaque para Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e claro o próprio Chuck Berry. A letra era uma gozação de Berry para com os críticos da época que diziam que o Rock ´n´ Roll era um tipo de música muito simples, com letras fracas e melodias primárias. Tudo isso era compensado com a vibração da canção. O interessante é que os Beatles poderiam ter incluído nas faixas do disco dois dos maiores sucessos da banda na época como "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand". O problema é que as gravadoras não incluíam músicas lançadas em singles nos álbuns, nos LPs. Um erro que atingiu a discografia não apenas dos Beatles, mas de outros grandes artistas do rock também. Uma forma de pensar equivocada. Sem ter músicas originais inéditas para tantos lançamentos o jeito foi mesmo gravar esse cover, que aliás ficou excelente, recebendo elogios do próprio Chuck Berry.

"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse."Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significavam que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade. A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. Eu não deveria amar você por tudo, mas quem controla as próprias emoções? Pois é... complicada a situação.

Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências elóicas"

A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção. Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco.

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr.

De certa maneira tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta, inclusive na Europa e Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Chuck Berry - One Dozen Berrys

Segundo álbum da carreira de Chuck Berry e o primeiro a ser lançado oficialmente na Europa - uma prova de seu sucesso comercial. Esse disco tem alguns dos maiores clássicos da carreira do cantor e compositor. Duas delas são ícones absolutos que merecem estar em qualquer lista de melhores rocks de todos os tempos, são elas "Sweet Little Sixteen" que estouraria nas paradas assim que foi lançada e "Rock and Roll Music" que anos depois seria regravada pelos Beatles em seu disco "Beatles For Sale". Em tempos politicamente corretos em que vivemos uma letra como a de "Sweet Little Sixteen" certamente traria problemas para Berry, afinal imagine a paranoia que iria se formar ao se deparar com uma canção que falava de uma doce garota de dezesseis anos! Seria o caos em cima do pobre Chuck. Já "Rock and Roll Music" tem uma grande letra, algo bem típico de Chuck Berry pois ele usava de uma linguagem quase cinematográfica para passar seu recado. Obra Prima!

"One Dozen Berrys" faz parte da primeira fase da carreira do cantor. Por essa época ele ainda gravava seus álbuns em Chicago, sob supervisão dos próprios irmãos Chess (Leonard e Phil Chess) que dominavam todo o processo de gravação com mãos de ferro, algo que em pouco tempo os colocaria contra as ideias de Chuck Berry que não ficaria muito tempo no selo - ele saiu batendo a porta literalmente, dizendo que estava sendo roubado pelos donos da Chess na cara dura! De uma forma ou outra não há como negar que é um grande trabalho. Não importam muito as brigas de bastidores quando o ouvinte se delicia com esse repertório. Berry até procura inovar um pouco ao considerar gravar ousadias como "Rockin' at the Philharmonic", uma óbvia tirada de sarro dele para cima dos críticos do Rock ´n´ Roll que não paravam de qualificar as primeiras canções de rock como imbecis e destituídas de valor musical. O tempo, senhor de tudo, porém iria dar o devido reconhecimento para Berry e todos os pioneiros do rock uma vez que esse disco hoje é considerado um verdadeiro clássico! Nada mal...

Chuck Berry - One Dozen Berrys (1958)
Sweet Little Sixteen / Blue Feeling / La Jaunda / Rockin' at the Philharmonic / Oh Baby Doll / Guitar Boogie / Reelin' and Rockin / In-Go / Rock and Roll Music / How You've Changed / Low Feeling / It Don't Take But a Few Minutes.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

The Crickets - The “Chirping” Crickets

Esse foi o álbum de estréia dos Crickets, uma das mais influentes bandas de rock da história. Hoje em dia obviamente o líder dos Crickets, o genial Buddy Holly, é bem mais lembrado que seus companheiros. Sua morte foi muito triste, não apenas em relação a tragédia humana da perda da vida de um homem jovem, na flor da idade, que queria se casar com sua namoradinha de juventude para ir morar em Nova Iorque e respirar o cenário cultural da capital do mundo, como também pelo talentoso artista que se foi. Buddy começou a carreira cantando inocentes enredos de amor mas tinha grandes planos para o futuro. Queria compor canções mais bem trabalhadas, com ênfase se em ótimos arranjos orquestrais, algo que ainda teve tempo de fazer (para entender recomendo que se ouça suas últimas gravações para notar as mudanças que ele queria promover em sua musicalidade). Infelizmente ele morreu em um acidente de avião com dois outros artistas talentosos - entre eles o jovem Ritchie Valens de "La Bamba". A sua morte ficou conhecida como o dia em que o rock morreu.

Esse álbum foi lançado por Buddy em sua fase mais teen, vamos colocar assim, quando o que ele queria mesmo era chamar a atenção e fazer sucesso. Ao lado de seu grupo "Os Crickets" ele encarnava no palco o mesmo sentimento juvenil de seus fãs. O carinha de óculos, intelectual e boa pessoa, que só queria encontrar uma namoradinha para passear de mãos dadas com ela no cinema ou na lanchonete. O interessante é que Buddy se assumia como tal e passou para a história como o primeiro roqueiro a se apresentar de óculos, sem fazer concessões. Isso inspiraria John Lennon muitos anos depois a assumir seus problemas de visão, ao mandar a imagem pública de Beatle às favas, surgindo nas capas dos discos dos Beatles tal como ele era na vida real. Uma atitude que deixaria o velho Holly orgulhoso.

Os arranjos desse disco são, aliás, tão despojados quanto o próprio Holly foi em vida. Letra simples, que poderiam ter sido escritas por um colegial apaixonado e melodias com três ou apenas quatro notas no máximo, não mais do que isso, afinal estamos falando de um artista tipicamente da primeira geração do rock americano. Paul McCartney, que era fã de carteirinha de Holly, levaria muito de sua personalidade musical para os Beatles - eles inclusive gravaram a linda "Words of Love" no disco "Beatles For Sale". Os Crickets também apresentavam uma formação bem básica, com o baixista Joe Mauldin, o baterista Jerry Allison e na outra guitarra Niki Sullivan completando o quarteto. A seleção de repertório traz basicamente todas as grandes canções dessa fase de Buddy Holly que vivia um dos períodos mais criativos de sua (curta) vida. Enfim, precisa dizer mais alguma coisa? A sensibilidade de Buddy venceu o desafio do tempo e da sua própria morte, um roqueiro dos primórdios que certamente deixou muitas saudades em todos os fãs daquele tempo simplesmente mágico.

The Crickets - The “Chirping” Crickets (1957)
1. Oh, Boy!
2. Not Fade Away
3. You've Got Love
4. Maybe Baby
5. It's Too Late
6. Tell Me How
7. That'll Be the Day
8. I'm Looking for Someone to Love
9. An Empty Cup (And a Broken Date)
10. Send Me Some Lovin
11. Last Night
12. Rock Me My Baby

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Já que estamos falando nos últimos dias dos primeiros álbuns dos grandes pioneiros do rock vamos agora tratar desse “Jerry Lee Lewis” (1958). Aqui temos realmente uma raridade em mãos. O disco não foi lançado no Brasil na época, o que é bastante fácil de entender, uma vez que o álbum original era da Sun Records que não tinha nenhum representante em nosso país. Com todo o respeito ao enorme legado de Sam Phillips a verdade era que a Sun era realmente uma gravadora ao estilo “fundo de quintal”. É de se admirar inclusive que tenha bancado um álbum desses pois a especialidade da Sun era mesmo os singles, pequenos compactos com apenas duas músicas, que geralmente nem capa possuíam (pois isso era caro para a estrutura da empresa). Jerry Lee Lewis era o sonho de Sam em transformar seu selo em algo realmente grande, importante, pena que tudo tenha dado errado. Como a Sun era muito modesta a distribuição era precária e muitos exemplares do primeiro álbum de Lewis mal saíram do sul para o resto do país. No norte dos Estados Unidos, por exemplo, era quase impossível encontrar o álbum nas lojas. Mesmo em Nova Iorque havia poucas cópias à venda. Se era ruim de achar lá imagine no resto do mundo...

Curiosamente seu repertório também ignorava os maiores sucessos do artista no selo, o que não ajudou em nada em suas vendas. Apenas "High School Confidential" está presente. O disco abre com uma versão de "Don't Be Cruel" de Elvis Presley. Dizem inclusive que Elvis cedeu a faixa praticamente de graça para Sam Phillips, até porque o produtor não teria mesmo como pagar os direitos autorais de uma canção milionária como essa. Foi uma forma encontrada por Elvis em ser grato ao seu “descobridor”. Isso desmente também a velha lenda de que Elvis não gostava de Lewis e tinha medo dele ocupar seu lugar nas paradas. Outro artista da Sun que deu uma “mãozinha” para Jerry Lee Lewis em sua estréia foi Carl Perkins que cedeu sua canção “Matchbox” para o colega de gravadora. Entre os bons momentos desse álbum é interessante citar inicialmente a faixa “Crazy Arms” que considero uma das melhores versões da música já gravadas. Mostra muito bem o talento de Lewis na Country Music (gênero ao qual se dedicaria mais futuramente, com ótimos resultados). No mais vale ainda citar o clássico "When The Saints Go Marching In", uma óbvia tentativa de Sam Phillips em mostrar o ecletismo de Lewis e a sentimental e nostálgica "Jambalaya (On The Bayou)" que ganhou até versão em nosso país, virando grande sucesso nas rádios cariocas. No conjunto é um álbum gostoso de ouvir, bem gravado, com bom repertório. A lamentar apenas seu pouco impacto nas paradas uma vez que a Sun realmente não tinha boa estrutura para isso. De qualquer modo é certamente um disco histórico, trazendo um dos nomes mais influentes da primeira geração do rock americano, sem retoques, quase cru, mostrando todo o seu talento de “matador”. Jerry Lee Lewis é realmente um grande nome que infelizmente foi muito subestimado em sua vida. Não deixe de ouvir para entender bem esse ponto de vista.

Jerry Lee Lewis - Jerry Lee Lewis (1958)
Don't Be Cruel 
Goodnight Irene 
Put Me Down 
It All Depends (On Who Will Buy The Wine) 
Ubangi Stomp 
Crazy Arms
Jambalaya (On The Bayou) 
Fools Like Me 
High School Confidential 
When The Saints Go Marching In 
Matchbox 
It’ll Be Me.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Nat King Cole - Unforgettable

Essa é uma daquelas músicas que fazem você se sentir feliz por estar vivo e ter a oportunidade de ouvi-la. Quando ouço melodias como essa fico muito entristecido de ver no que a música negra americana se tornou nos dias de hoje - um festival incrível de falta de talento, sensibilidade e romantismo. Aliás essas três qualidades fundamentais - talento, sensibilidade e romantismo - sobravam na pessoa de Nat King Cole! Que grande cantor! Aqui temos um exemplo do que talento aliado a fina técnica podem fazer por um artista. Cole cantava suavemente, delicadamente, o que lhe valeu o carinhoso apelido de "voz de veludo". Ao se ouvir gravações como essa quem pode discordar? Certamente muitos conhecem "Unforgettable" no dueto entre Cole e sua filha, algo que só foi possível graças às maravilhas da tecnologia moderna. Como sou um tradicionalista em termos musicais prefiro a versão crua, original, tal como chegou ao mercado em 1951. Aquilo senhoras e senhores é uma verdadeira obra prima em forma de notas musicais. Insuperável em todos os aspectos.

Também pudera, a canção foi produzida pelo gênio Nelson Riddle, que escreveu o arranjo com uma delicadeza ímpar. Para quem não se lembra ou não sabe, Riddle foi o grande parceiro musical de Frank Sinatra, estando por trás de todos os grandes álbuns da carreira do cantor. Era uma dupla perfeita, Sinatra no microfone e Nelson no controle, na sala de estúdio, lapidando tudo com uma sensibilidade fora do comum. A sofisticação e elegância que trazia para os discos do velho Blue Eyes, se repete aqui, em cada detalhe, em cada nuance da melodia. Irving Gordon, o famoso compositor nova iorquino negro, foi quem escreveu a música. Um veterano que chegou ao meio musical pelas mãos de ninguém menos do que Duke Ellington. Assim pare para analisar, temos aqui um trio de ouro por trás de "Unforgettable"! Com tantos talentos não poderia dar em outra coisa. Considero "Unforgettable", sem favor algum, uma das dez mais lindas canções da música norte-americana de todos os tempos. Simplesmente imortal!

Unforgettable (Irving Gordon) - Unforgettable, that's what you are / Unforgettable though near or far / Like a song of love that clings to me / How the thought of you does things to me / Never before has someone been more / Unforgettable in every way / And forever more, that's how you'll stay / That's why, darling, it's incredible / That someone so unforgettable /  Thinks that I am unforgettable too / Unforgettable in every way / And forever more, that's how you'll stay / That's why, darling, it's incredible / That someone so unforgettable / Thinks that I am unforgettable too.

Pablo Aluísio.

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers
Esse foi o primeiro álbum de Sinatra na Capitol Records. Não era apenas uma mudança de gravadora, pois Sinatra havia deixado para trás um belo legado musical na Columbia. Era também uma mudança de ares importante para o cantor. Ele já não vinha se dando bem nos últimos anos na Columbia, por causa de brigas com certos executivos. Na Capitol haveria possibilidade dele recomeçar um novo caminho na sua carreira e foi justamente isso que aconteceu. Sinatra decidiu que iria basicamente gravar as músicas que apresentava no Cassino Sands em Las Vegas. O mesmo repertório, as mesmas músicas e a mesma orquestra que o acompanhava no palco. O tema das canções era geralmente o mesmo, o coração partido de jovens apaixonados. Então não foi mesmo muito complicado de se achar o título ideal para o álbum. 

O disco acabou sendo comercialmente muito bem sucedido se tornando um dos mais vendidos naquele ano. Foi também um dos últimos em que Sinatra não precisou enfrentar a concorrência do rock, que estava prestes a explodir nas paradas musicais. A partir do surgimento da primeira geração do rock americano Sinatra iria enfrentar dificuldades para alcançar as primeiras posições dos mais vendidos. De qualquer forma é um grande trabalho. E como curiosidade final esse era o disco preferido de James Dean, conforme ele mesmo confessou em uma entrevista poucos dias antes de morrer. Quem diria, com sua imagem tão identificada ao rock, James Dean curtia mesmo um belo disco romântico do bom e velho Sinatra. 

Frank Sinatra - Songs for Young Lovers (1954)
My Funny Valentine (Richard Rodgers, Lorenz Hart)
The Girl Next Door (Ralph Blane, Hugh Martin)
A Foggy Day (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Like Someone in Love (Jimmy Van Heusen, Johnny Burke)
I Get a Kick Out of You (Cole Porter) 
Little Girl Blue (Rodgers, Hart) 
They Can't Take That Away from Me (George Gershwin, Ira Gershwin) 
Violets for Your Furs (Tom Adair, Matt Dennis)

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Norah Jones - First Sessions

Alguns artistas já nascem prontos. Basta ouvir suas primeiras sessões de gravação para entender bem isso. Se tem dúvidas procure ouvir as primeiras gravações de alguns mitos da música no passado como, por exemplo, Elvis Presley ou The Beatles. Tirando a maior falta de experiência todos eles já se pareciam em quase tudo com o que um dia iriam se tornar. Elvis já era Elvis na Sun Records. O mesmo com os Beatles na Decca. Duvida? Basta ouvir. O mesmo se aplica aqui, tirando obviamente as devidas proporções, nesse primeiro EP (compacto duplo na definição da velha escola) da cantora Norah Jones. São apenas cinco faixas, mas Norah já é Norah. Engraçado que essas primeiras gravações conseguem ser extremamente superiores inclusive ao que ela vem apresentando ultimamente em seus CDs. A cantora está involuindo? Não necessariamente. Acredito que o grande problema para Norah nos dias atuais é a escolha errada de repertório. Ela tentou mudar nesses últimos tempos, o que vejo como um erro. Alguém precisa lembrar a ela a velha máxima de que "em time que se está ganhando não se mexe".

Pois bem. Nesses primeiros registros já temos uma amostra do talento de Norah Jones, algo que ficaria claro em seu primeiro álbum oficial - que venderia milhões e seria consagrado pela crítica e público. A seleção musical é das melhores, com Norah simplesmente perfeita. Quando ouvi pela primeira vez o CD há muitos anos, percebi já em primeira audição de forma imediata, o extremo bom gosto das faixas. Hoje em dia é algo raro - até mesmo entre colecionadores - adquirir a primeira edição do EP, isso porque foram produzidos apenas 10 mil cópias. Norah Jones praticamente bancou de forma independente sua estreia nos estúdios, os vendendo geralmente ao público que comparecia em seus primeiros concertos. Mais indie do que isso impossível. Na seleção alguns verdadeiros clássicos do repertório de Norah com destaque para "Don't Know Why" (que verdadeiramente amo de paixão) e "Lonestar" (baladinha country que me faz ainda ter esperanças no gênero). Em suma, um belo trabalho que demonstra acima de tudo que Norah já estava pronta desde os seus primeiros momentos dentro de um estúdio. Talento já nasce com o artista, não tem jeito.

Norah Jones - First Sessions (2001)
Don't Know Why
Come Away with Me
Something Is Calling
Turn Me
Lonestar
Peace

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Snow Patrol - Eyes Open

Revirando velhos CDs me deparei novamente com esse álbum do Snow Patrol. Sempre gostei muito do som desses escoceses, mas parei de acompanhar a carreira deles há algum tempo (por onde será que andam nesse momento?). Esse "Eyes Open" foi meu primeiro CD da banda. Comprei assim que saiu, por volta de 2006. O som melódico das canções continua tão bom quanto antes. O Snow Patrol tem uma sonoridade que poderia definir como um Stereophonics mais romãntico, com menos guitarras estridentes, o que é ideal para quem gosta do lado mais suave do Britpop. Aqui temos onze faixas que podem ser definidas como, de forma bem singela, agradáveis. As baladas predominam, até porque são ideais para a voz de Gary Lightbody. A faixa inicial "You're All I Have" sempre foi a minha preferida. Começa quase como um trenó no meio da neve. É curioso que depois desse começo calmo a canção dá uma levada alto astral, com vocais pra cima, empolgantes, quase como se estivessem vibrando com alguma notícia animadora, alegre. Esse som feliz demais pode ser meio complicado para os fãs do Travis, outros escoceses excelentes, mas vale a pena pela intensa alegria que tentam passar. Para ouvir numa fase mais relaxante, curtindo a vida. Por falar em Travis a balada "Chasing Cars" poderia se encaixar perfeitamente em qualquer CD deles que ninguém iria notar a diferença. Snow Patrol querendo dar uma de depressivos. Não é bem a praia dos caras, vamos ser sinceros.

Em termos de arranjos vale também a menção de "Shut Your Eyes". O dedilhado atravessa toda a faixa. O refrão pegajoso não é unanimidade entre os críticos do rock britânico, mas está valendo, até porque o Snow Patrol sempre teve mesmo vocação para tocar nas rádios (pelo menos nas rádios inglesas, claro!). Isso ficou bem claro em "It's Beginning to Get to Me". Se bem que eles não deveriam exagerar tanto. Ficou óbvio demais. E essa caixinha de ninar que ouvimos em "You Could Be Happy"? Provavelmente seja feita para tocar para os seus filhos pequenos dormirem de noite. Para uma banda escocesa que não quer ser tão depressiva como o Travis vai soar tudo um pouco fora do lugar! A última grande faixa do álbum vem com "Headlights on Dark Roads". Suas linhas ansiosas e nervosinhas bateram muito bem com a proposta do grupo nesse CD.

Snow Patrol - Eyes Open (2006)
1. You're All I Have
2. Hands Open
3. Chasing Cars
4. Shut Your Eyes
5. It's Beginning to Get to Me
6. You Could Be Happy
7. Make This Go On Forever
8. Set the Fire to the Third Bar
9. Headlights on Dark Roads
10. Open Your Eyes
11. The Finish Line

Pablo Aluísio.