domingo, 28 de setembro de 2025

Discografia Eagles

Discografia Eagles
Aqui está a discografia de estúdio do Eagles, organizada em ordem cronológica de lançamento:

Álbuns de Estúdio
Eagles – 1972
Desperado – 1973
On the Border – 1974
One of These Nights – 1975
Hotel California – 1976
The Long Run – 1979
Long Road Out of Eden – 2007

Principais Álbuns ao Vivo
Eagles Live – 1980
Hell Freezes Over – 1994
Live from the Forum MMXVIII – 2020

Compilações Relevantes
Their Greatest Hits (1971–1975) – 1976 (um dos discos mais vendidos da história)
Greatest Hits Volume 2 – 1982
The Very Best of Eagles – 2003

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Discografia Pink Floyd


Discografia Pink Floyd
Lista completa dos álbuns de estúdio do Pink Floyd, organizados em ordem cronológica com os respectivos anos de lançamento:

The Piper at the Gates of Dawn – 1967
A Saucerful of Secrets – 1968
More (trilha sonora) – 1969
Ummagumma – 1969
Atom Heart Mother – 1970
Meddle – 1971
Obscured by Clouds (trilha sonora) – 1972
The Dark Side of the Moon – 1973
Wish You Were Here – 1975
Animals – 1977
The Wall – 1979
The Final Cut – 1983
A Momentary Lapse of Reason – 1987
The Division Bell – 1994
The Endless River – 2014

👉 Essa lista traz apenas os álbuns de estúdio. O Pink Floyd também lançou diversos álbuns ao vivo e coletâneas (como Delicate Sound of Thunder e Pulse), mas normalmente não entram na discografia principal. Seguindo a lista anterior dos álbuns de estúdio, aqui está a discografia complementar do Pink Floyd, incluindo álbuns ao vivo e coletâneas oficiais (em ordem cronológica):

🎵 Álbuns ao vivo
Delicate Sound of Thunder – 1988
Pulse – 1995
Is There Anybody Out There? The Wall Live 1980–81 – 2000

Live at Pompeii (lançado oficialmente em DVD/CD anos depois, mas gravado em 1971 e em 2016 saiu em edição expandida)

The Endless River – Deluxe Edition (inclui gravações ao vivo de 1994, mas não é considerado um álbum ao vivo separado)

📀 Coletâneas oficiais
Relics – 1971
A Nice Pair – 1973 (reunião dos dois primeiros álbuns)
Works – 1983
Echoes: The Best of Pink Floyd – 2001
A Foot in the Door: The Best of Pink Floyd – 2011

👉 Além disso, há inúmeros box sets e relançamentos especiais (como Shine On de 1992 e The Early Years 1965–1972 de 2016), que não são exatamente novos álbuns, mas reúnem raridades, faixas inéditas e versões ao vivo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

George Harrison – All Things Must Pass

Todos sabem que era muito complicado para George Harrison ter algum espaço dentro dos álbuns dos Beatles. Competir com dois gênios musicais como John Lennon e Paul McCartney era algo quase impossível. Assim geralmente o grupo dava o espaço de uma ou duas canções para Harrison dentro dos discos. Era muito pouco para alguém que havia alcançado uma maturidade inegável como compositor e arranjador como George. Sua sina criativa estava sendo reprimida. Essa era uma situação tão evidente que até mesmo John Lennon, com toda a sua arrogância e ar de superioridade, reconhecia. Em relação a Harrison chegou a reconhecer isso ao dizer que “Os discos dos Beatles eram muito limitantes, especialmente para George”. Para se ter uma idéia a própria música que dá título a esse maravilhoso álbum, “All Things Must Pass”, foi vedada pelos demais Beatles. O plano de Harrison era encaixar a canção no álbum “Let it Be” mas ela ficou de fora! Inclusive toda a solidão de George nesse aspecto pode ser conferido no projeto Anthology. Lá o ouvinte encontra uma gravação de George da canção durante os trabalhos de “Let it Be”. Ele surge sozinho, tocando sua guitarra de forma chorosa, numa clara tentativa de chamar a atenção de Paul e John para a música. Não deu certo e ele foi ignorado.

As coisas mudaram quando os Beatles deixaram de existir. Com o fim do conjunto George Harrison teve finalmente toda a liberdade que queria. Ele juntou todas as músicas que tinham sido rejeitadas pelos Beatles por anos a fio e jogou aqui nesse excelente álbum. Afinal se todas as coisas passavam, os Beatles também passariam. Mesmo após tantos anos essa é ainda hoje considerada a obra prima de George Harrison. O disco em que ele colocou tudo o que havia sido reprimido em tantos anos ao lado dos Beatles. Há de tudo na seleção musical, rock da melhor estirpe, músicas instrumentais, letras religiosas e espirituais (não poderia ser diferente em se tratando do mais espiritual Beatle) e uma série de boas canções, algumas brilhantes, outras inofensivas. De brinde algumas composições que George havia criado ao lado de Bob Dylan e que jamais poderiam entrar nos discos dos Beatles por questões contratuais. Para dar uma mão na parte instrumental o cantor trouxe o mágico guitarrista Eric Clapton, que abrilhantou ainda mais o resultado final. “All Things Must Pass” é isso, um belo retrato de um artista ciente de seu talento, seguro de sua musicalidade, mesmo após anos vivendo à sombra da dupla Lennon e McCartney.

George Harrison – All Things Must Pass (1970)
I'd Have You Anytime
My Sweet Lord
Wah-Wah
Isn't It a Pity (Version One)
What Is Life
If Not for You
Behind That Locked Door
Let It Down
Run of the Mill
Beware of Darkness
Apple Scruffs
Ballad of Sir Frankie Crisp (Let It Roll)
Awaiting on You All
All Things Must Pass
I Dig Love
Art of Dying
Isn't it a Pity (Version Two)
Hear Me Lord
Out of the Blue
It's Johnny's Birthday
Plug Me In
I Remember Jeep
Thanks for the Pepperoni

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de setembro de 2025

Paul McCartney - McCartney

Paul McCartney - McCartney
Esse foi o primeiro disco solo de Paul McCartney. Os Beatles estavam chegando ao fim e Paul usou esse material quase como um teste de mercado. Na verdade ele tinha certo receio de como seria sua carreira dali para frente. Havia muitas dúvidas e algumas delas soam absurdas hoje em dia. Por exemplo, Paul tinha certa dúvida se ele seria comercialmente viável sozinho. O que todos perguntavam é se Paul poderia dar certo como artista solo. Certo que nos Beatles ele havia sido simplesmente genial mas daria certo sem John, George e Ringo? Será que um disco inteiro apenas com Paul não se tornaria cansativo? Ele teria pique para segurar a onda durante um disco solo? Claro que hoje em dia todas essas perguntas soam sem propósito mas em 1970 elas pareciam bem reais e fortes. Esse primeiro disco de Paul ainda saiu pelo selo Apple. Havia muitos problemas contratuais, processos voando para todos os lados e McCartney lutava para sair das garras de Allen Klein, o desonesto empresário dos Beatles.

O resultado é um trabalho apenas mediano. Paul na verdade não deu 100% de si na gravação desse disco mas sim o jogou no mercado americano e inglês para sentir como seria a reação. No meio da confusão do fim dos Beatles o álbum acabou ganhando uma bela promoção grátis na imprensa e como todos queriam ouvir o primeiro disco solo de Paul McCartney ele acabou fazendo um grande sucesso de vendas. O problema é que também sofreu críticas que incomodaram Paul. Alguns especialistas disseram que o disco, apesar de algumas belas melodias, ainda soava muito cru e sem capricho! Era verdade. McCartney absorveu bem essas críticas e decidiu que era hora de montar uma nova banda de rock, afinal ele se sentia desconfortável de trabalhar sozinho. Para quem sempre havia pertencido a um conjunto isso era mais do que natural. Assim nasceu a ideia que iria germinar e dar origem aos Wings. Mas antes disso vamos tecer alguns comentários sobre as canções do álbum "McCartney" de 1970:

The Lovely Linda (Paul McCartney) - A carreira solo de Paul McCartney começa com essa baladinha em homenagem a Linda McCartney. A letra é tão simplória quanto a melodia, bem, diríamos, bucólica. Paul termina a canção com uma risadinha, bem no espírito descontraído de todas as faixas desse álbum. Despretensiosa sim, mas bem cativante.

That Would Be Something (Paul McCartney) - Essa é bem mais trabalhada, com ótima instrumentação. Paul obviamente toca todos os instrumentos. A canção começa com um belo dueto entre guitarra, baixo e violão. Ótimo arranjo. Só depois a batera entra mas mesmo assim bem timidamente. Perceba que a letra é mero pretexto para acompanhar a melodia. Paul aqui não se importou nem um pouco com o conteúdo da letra, preferindo se concentrar no arranjo.

Valentine Day (Paul McCartney) - Aqui temos uma faixa completamente instrumental. Paul faz experimentos, com destaque para os belos solos de guitarra que vai desenvolvendo ao longo da faixa. Tudo soa como mera improvisação. De certa forma a gravação parece mais uma jam session, uma forma de Paul conferir como ficaria a mixagem de todos os instrumentos depois que ele gravasse tudo separado. Curiosamente a faixa acaba de forma bem abrupta, tal como começara!

Every Night (Paul McCartney) - A primeira boa canção do disco. Aqui temos realmente Paul se empenhando em trazer mais uma daquelas baladas que tanto sucesso fizeram em seus anos como Beatle. A canção tem um maravilhoso refrão, altamente pegajoso, diga-se de passagem (tente apagar da mente, por exemplo, o "Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh-ooh" para sentir como é complicado!). Na letra Paul diz que não quer saber de mais nada na vida a não ser ficar ao lado de sua amada a cada noite. Bonito!

Hot as Sun / Glasses (Paul McCartney) - O ritmo desse medley me lembra velhas canções escocesas do século XIX. É outra faixa instrumental totalmente baseada na linha melódica principal, formada de apenas algumas notas - para você entender como Paul era genial em suas composições. Além dos instrumentos de rotina Paul injeta um velho órgão em solos que dão a identidade à canção. Já "Glasses" tem uma linha de letra, sendo que seu arranjo me lembrou imediatamente de algumas gravações do Pink Floyd, o que mostra que Paul andava antenado com o que estava acontecendo na época.

Junk (Paul McCartney) - Uma das preferidas do próprio Paul. Essa ele queria gravar com os Beatles mas criminosamente a canção ficou fora dos registros da banda. Há uma gravação inclusive feita por Paul McCartney nos estúdios Abbey Road. O problema é que havia tantas canções geniais rodando durante as gravações dos discos dos Beatles que até obras primas como essa ficavam de fora. Como bem disse John Lennon o espaço de um LP era muito pequeno para tantos gênios musicais reunidos como os Beatles! Faltaria espaço certamente. Sem dúvida uma faixa maravilhosa.

Man We Was Lonely (Paul McCartney) - Outra preciosidade. Quando gravou esse álbum Paul disse que o tinha gravado para depois tocar no toca-fitas de seu carro, nada mais do que isso. Por isso tudo era tão despretensioso. Bom, após ouvir essa música pinta uma dúvida sobre se isso era de fato verdade. A gravação é ótima, muito bem arranjada e executada, com a ajudinha de Linda McCartney nos vocais de apoio. Paul também duplicou sua voz. O resultado é ótimo, uma gravação completamente profissional, nada amadora como Paul queria fazer crer!

Oo You (Paul McCartney) - Outra jam, bem experimental, diga-se de passagem. A guitarra surge forte, solando e duelando com outra mais ao fundo, um grande trabalho, principalmente para quem tocou todos os instrumentos sozinho (imagine a dor de cabeça para sincronizar tudo isso depois na sala de edição!). Nesse disco em particular Paul parece muito sedento em tocar vários solos de guitarra - estaria ele compensando os anos de Beatles quando tinha que dividir esse tipo de coisa com o colega George Harrison? É bem possível...

Momma Miss America (Paul McCartney) - Outra instrumental. É um rock com uma linha de melodia mais presente. Uma forma de Paul agitar um pouco as coisas no disco para que ele não ficasse muito cheio de baladinhas - coisa que faria John Lennon certamente pegar em seu pé! Outra faixa que traz um belo solo de guitarra Les Paul Gibson by Paul McCartney. Apesar de alguns pequenos espaços em branco considero uma bela gravação. Quatro minutos do mais puro rock ´n´ roll!

Teddy Boy (Paul McCartney) - Outra que quase entra no disco "Abbey Road" mas que foi deixada de lado por John Lennon que considerou a letra muito bobinha. De certa forma ele tinha uma boa dose de razão. A estorinha do garoto Ted parece ser um pouco forçada. No final a música foi salva pela ótima melodia e pelo arranjo primoroso escrito por Paul (embora eu particularmente implique um pouco com os vocais de apoio).

Singalong Junk (Paul McCartney) - A melodia é a mesma de "Junk", só que aqui imensamente melhor trabalhada. É outra faixa completamente instrumental. Paul a gravou pensando em lançar "Junk" como lado A de um single, com essa faixa vindo no lado B (algo bem comum na época). O arranjo aqui é fabuloso mesmo, muito rico e lindamente escrito. Para relaxar a mente do stress do dia a dia.

Maybe I'm Amazed (Paul McCartney) - O grande clássico do álbum. Essa Paul não deixaria para trás como as demais faixas do disco, a levando para seus grandes shows! Certamente um momento essencial nessa fase de sua carreira. Seu arranjo de piano e os vocais ora viscerais, ora ternos, além de um maravilhoso solo de guitarra, torna essa uma das melhores gravações de Paul McCartney em sua carreira. Obra Prima, sem a menor sombra de dúvidas.

Kreen-Akrore (Paul McCartney) - Para quem acha que Paul McCartney nunca gravou rock progressivo na carreira. Ora, basta ouvir essa faixa para entender do que se trata - Paul mandando ver no progressivo mesmo, com clara influência do Pink Floyd de cabo a rabo da gravação. Na época o registro passou despercebido, imagine você! Por essa e outras costumo dizer que se os Beatles tivessem levado a carreira em frente, eles teriam grandes chances de abraçar o progressivo, que queiram ou não, iria dominar as grandes bandas de rock dos anos 70. Era algo, em minha forma de ver, inevitável. O psicodelismo seria deixado de lado e os Beatles iriam certamente entrar em uma disputa com grupos como o Pink Floyd!

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de setembro de 2025

John Lennon – Unfinished Music No. 1: Two Virgins

John Lennon – Unfinished Music No. 1: Two Virgins
O primeiro álbum solo da carreira de John Lennon também foi um dos mais polêmicos. Há tempos ele vinha ao lado de Yoko Ono procurando por outro tipo de sonoridade que não tivesse necessariamente a ver com música ou notas musicais. Lennon chamou essas experiências de “sons experimentais”. Esse tipo de gravação já havia aparecido na discografia dos Beatles, na faixa “Revolution 9”, mas Lennon queria ir além. Nada de melodia, nada de letras, apenas sons ao acaso, colhidos do ambiente, gritos, risadas, sons distorcidos, loucura, êxtase, clímax. Assim que apareceu com seu novo projeto para a gravadora EMI ouviu um sonoro “Não” dos executivos! Aquilo nunca foi a proposta da gravadora, não tinha nada a ver com os Beatles e tudo soava estranho demais.

Lennon não desistiu e nem recuou. Pelo contrário radicalizou o projeto e quis que na capa ele e Yoko Ono surgissem nus, um ao lado do outro. Na contracapa a mesma coisa, só que o casal surgiria de costas para a câmera. Completamente pelados! Lennon queria testar os limites, saber até onde poderia ir antes de sofrer censura ou repressão. A cultura hippie estava no auge, a peça "Hair" com o elenco completamente nu era um sucesso e Lennon queria trazer aquele tipo de postura para sua discografia! O fato do casal estar nu causou um problema e tanto nas lojas de discos. Alguns donos mandaram colocar uma tarja preta nos órgãos sexuais de John e Yoko, outros embrulharam o disco em uma capa de papelão só aparecendo o rosto dos pombinhos. O departamento de justiça inglês proibiu a venda para menores de 18 anos e o disco foi considerado obsceno em vários países. No Brasil, em plena ditadura, nunca foi lançado. Circulou apenas entre os fãs mais obcecados pelos Beatles.

Por motivos contratuais o álbum só seria lançado com o aval dos demais Beatles (o grupo ainda existia e John só poderia lançar algo com a autorização dos demais integrantes da banda). Ringo Starr foi um dos que mais se incomodou com tudo. “Não importa que fosse apenas o John e a Yoko, pois todos nós (os Beatles) teríamos que responder por aquilo”. Paul McCartney também achou radical demais mas ao mesmo tempo entendeu que aquilo tinha a ver com a arte de Yoko Ono e seu modo de pensar e não queria se meter em assuntos do casal. Já George Harrison achou tudo uma grande palhaçada de John mas autorizou o lançamento do disco. Para demonstrar que estava à vontade com tudo aquilo Paul McCartney, a pedido de Lennon, escreveu uma frase para colocar na capa do álbum que dizia: “Quando dois santos se encontram, a experiência nos torna mais humildes. A longa batalha irá provar que ele era um santo”.

Lennon defendeu o disco em várias entrevistas afirmando que "não existem problemas em um casal ficar nu na frente das pessoas". Também disse que os tais "sons experimentais" seriam o futuro da música. Em sua forma de pensar as pessoas no futuro estariam ouvindo os gritos de Yoko Ono e não música clássica ou algo parecido! “Two Virgins” não é um disco fácil. Há muitos sons, assovios, batidas, frases desconexas, violões desafinados, conversações sem sentido, distorções, miados de Yoko, palmas, muita gritaria e nenhuma música. O material todo soa como um grande delírio sob efeitos de drogas. A LSD é obviamente uma experiência que influenciou esse tipo de coisa. Apenas os fãs mais radicais de Lennon vão apreciar. Para os demais fica apenas a curiosidade de conhecer uma das maiores excentricidades da vida de John Lennon, um sujeito que poderia ser muitas coisas mas não um cara muito normal!

John Lennon – Unfinished Music No. 1: Two Virgins (1968)
Two Virgins, Side One
Two Virgins Side Two
Remember Love

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Janis Joplin - Janis Joplin's Greatest Hits

Janis Joplin - Janis Joplin's Greatest Hits
Sempre que eu coloco um disco da Janis Joplin para tocar eu me surpreendo com o que ouço. Ela era uma americana do Texas, com problemas de autoestima. Uma garota branca até bem normal de seu tempo, incluindo aí sua fase dentro do movimento hippie. Entretanto quando ela começava a cantar a impressão que sempre tive foi a de ouvir uma cantora negra de blues e jazz. Nesse aspecto ela tinha semelhanças com Elvis, pois eram artistas brancos que soavam e tinham um estilo mais voltado para a cultura preta dos Estados Unidos. Infelizmente sempre achei sua discografia muito bagunçada. Ela fez parte de diversos grupos e em cada um deles lançou um disco. Muitos desses álbuns foram lançado por selos obscuros e depois de alguns anos se tornaram raros de encontrar. Por isso colecionar seus discos nunca foi algo fácil de se fazer. 

Por essa razão não me admiro pelo fato de que seu disco mais vendido foi justamente esse aqui. Uma coletânea de seus maiores sucessos. Um disco que vendeu tanto na época que levou disco de platina. Um sucesso comercial em vinil que a Janis Joplin nunca alcançou em vida. Claro que foi uma bem bolada jogada de marketing de sua gravadora, lançado três anos após sua morte precoce, de overdose de drogas, com apenas 27 anos de idade. Outro aspecto a se considerar é que o som da Janis Joplin não é indicado para todos. Ela tinha esse estilo visceral de cantar, que para muitos vai soar como alguém desesperado ou exagerado demais no microfone. Era o estilo dela. De qualquer forma vale a referência, nem que seja por esse grande sucesso com a marca de seus maiores sucessos. A Janis Joplin merecia esse reconhecimento comercial, ainda que póstumo. 

Janis Joplin - Janis Joplin's Greatest Hits (1973)
Piece Of My Heart
Summertime
Try (Just A Little Bit Harder)
Cry Baby
Me And Bobby McGee
Down On Me
Get It While You Can
Bye, Bye Baby
Move Over
Ball And Chain

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

The Beach Boys - Surfin´ Safari (single)

O primeiro single da carreira dos Beach Boys foi "Surfin' / Luau" lançado em novembro de 1961. Na verdade muitos consideram quase uma demo, gravado de forma praticamente amadora e lançado pelo pequeno selo X Records. Nada, mas nada relevante. O bom foi que o disquinho acabou caindo nas mãos de um executivo da poderosa Capitol Records, Murry Wilson, que viu potencial naquele som. Afinal o Surf era uma moda entre os jovens e aquele som ideal para rolar nas praias estava vendendo como nunca. As gravadoras porém queriam grupos de surf music em que houvesse belos vocais pois o gênero sobrevivia praticamente apenas de músicas instrumentais. Aquele som daqueles jovens desconhecidos poderia suprir esse vazio que o mercado queria ocupar. Os garotos do Beach Boys não faziam média, não queriam criar nenhuma obra prima musical, só desejavam mesmo cantar sobre praias, garotas e surf! Claro que a indústria há muito tempo procurava por algo assim. Foi mesmo uma excelente parceria que renderia ótimos frutos comerciais. Contratados, o grupo se reuniu no ótimo World Pacific Studios e deu origem propriamente em sua carreira profissional. O resultado foi melhor do que esperado.

Apesar de ter sido apenas o primeiro single nacional dos Beach Boys "Surfin' Safari" imediatamente caiu no gosto de seu público alvo, os jovens californianos, que passavam o dia na praia pegando onda, namorando e vendo o sol se por. A incrível vocalização alcançada pelo grupo, aliado a um delicioso acompanhamento instrumental acertou em cheio nas paradas. Para uma banda jovem que era completamente desconhecida, o décimo quarto lugar alcançado na primeira semana de lançamento na prestigiada Billboard Hot 100 representou uma vitória e tanto para os rapazes. A Capitol tinha grandes planos para os Beach Boys, principalmente a gravação de um álbum e esse single serviu como um termômetro do mercado, para sentir até onde aquele som poderia ir. Os meses que viriam demonstrariam a força comercial dos Beach Boys. Aliás quando ocorreu a invasão britânica nas paradas americanas com a chegada dos Beatles foram eles, os Beach Boys, a única esperança do rock americano em combater os ingleses, luta essa em que eles se apresentaram muito bem, mostrando que o bravo rock Made in USA ainda sobrevivia e era forte o suficiente para bater com os quatros cabeludos de Liverpool de frente! E pensar que no começo os Beach Boys só queriam mesmo um lugar ao sol...

Pablo Aluísio.

 

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

The Doors - Strange Days

The Doors - Strange Days
Gravado em oito canais no mês de agosto de 1967, no Sunset Sound Studios #1 (Hollywood, CA). Lançado oficialmente nos EUA no dia 25 de setembro de 1967. Produzido por Paul A. Rothchild. No mesmo ano em que haviam invadido os EUA com seu primeiro disco e com o single de grande sucesso Light My Fire, os Doors prepararam seu segundo trabalho, Strange Days. Dessa vez, contaram com equipamentos de alta tecnologia (para a época) e puderam realizar uma das primeiras gravações da história feitas a oito canais de áudio. Mesmo não tendo conseguido atingir o mesmo impacto que o disco The Doors causou na mídia, lançou canções de sucesso popular (People Are Strange e Love Me Two Times) e vários clássicos da banda (principalmente When the Music's Over), além de faixas pouco conhecidas, como You're Lost Little Girl e I Cant See Your Face In My Mind, que podem facilmente entrar na lista das melhores do grupo.

Apesar de manter o mesmo estilo que havia sido consagrado no disco de estreia, Strange Days tem menos influências de blues que seu antecessor, dando mais ênfase ao lado sombrio das composições, os "dias estranhos" do título e da capa. Mas, passando por cima de todos esses detalhes, "Strange Days" foi ganhando status ao longo do tempo e hoje é considerado pelos especialistas como o melhor disco da banda. O trabalho mais artístico dos Doors, sem dúvida. Começando pela capa, em estilo nitidamente europeu, pelo som que se tornou único dentro da história do conjunto e pelo conteúdo das letras, que ficaram mais elaboradas do que nunca. Jim considerava "Strange Days" o ponto alto da discografia do quarteto, tanto que sempre o utilizava como paradigma em relação aos outros discos. A ideia da capa circense, inclusive, foi sugestão do próprio cantor que não queria aparecer novamente ao lado de seus colegas de banda, como ocorreu no disco de estreia. Mas a ideia do circo europeu com malabaristas, artistas e cartomantes, foi na verdade a segunda ideia de Jim. A primeira? Morrison queria que os Doors fossem cercados por trinta cães. Quando perguntado de onde ele tinha tirado uma ideia tão surreal, Jim respondeu que tudo seria uma metáfora, pois cão (dog) é o inverso de Deus (God)! Vai entender...

Singles nas lojas:

People Are Strange / Unhappy Girl - Em Setembro de 1967 os Doors lançaram este primeiro single extraído de "Strange Days". O Lado A é o ponto forte com uma canção que entraria definitivamente na história do grupo. Na realidade "People Are Strange" já havia sido composta há muito tempo, antes mesmo até do grupo se formar. Só ficou fora do disco de estreia por pura falta de espaço. Melhor assim. Aqui ele ganhou o veículo perfeito para sair das trevas dos arquivos dos Doors. A canção do Lado B não acompanha o alto nível artístico do lado A. Mas também não faz feio. Cumpre tabela.

Love Me Two Times / Moonlight Drive - Dois meses depois do primeiro single chegar nas lojas, em novembro de 1967, os Doors invadem novamente as lojas com esse segundo single. A ordem das músicas deveria ter sido invertida, porque sem dúvida, "Moonlight Drive" é bem superior que "Love Me Two Times", essa apenas uma música feita para tocar nas rádios. De certa forma o tempo fez justiça, pois "Moonlight Drive" é uma das mais conhecidas músicas dos Doors e sua parceira de single caiu na vala comum do anonimato. Com um lado excepcional e o outro apenas regular, esse single leva uma nota sete por seu valor musical e passa por média.

Strange Days
E então chegamos em "Strange Days", um dos álbuns mais marcantes do grupo. Foi o segundo dos Doors no selo Elektra Records. Também foi um dos mais esperados, por causa da grande repercussão do primeiro disco. Jim Morrison deu esse título ao álbum porque em sua opinião aqueles dias em que os Doors começaram a fazer sucesso foram dias estranhos. Afinal em poucas semanas Jim passou de um perfeito estranho que perambulava pela Venice Beach a um superstar internacional. Eram dias loucos em sua opinião.

Foi também uma mudança de conceito da banda, a começar pela capa. Jim não havia gostado da capa do primeiro disco. Para ele era algo vulgar demais colocar apenas a foto dos membros do conjunto. Por isso ele mandou que se fizesse algo mais artístico, diria até circense. Para a sorte dos Doors um grupo de artistas de circo foram encontrados nos arredores de Los Angeles. São eles que estão na capa do disco, em poses de picadeiro. Também eram bem representativos desse mundo, com o homem de super força, o anão e a cartomante. Além é claro do malabarista. Tudo o que Jim queria!

"Strange Days" foi muito bem recebido pela crítica. Os Doors que não se enquadravam em estilo nenhum, davam mais um passo rumo a uma identidade musical bem própria. Além disso Jim ainda era jovem e seu apelo sexual junto às fãs mais jovens garantia shows lotados, concertos com ingressos esgotados e bons números de vendas de cópias de seus discos nas lojas. Tudo correndo muito bem para eles naquela fase de sua carreira. Os monstros interiores de Morrison ainda não tinham se revelado para o público.

Pablo Aluísio

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Rolling Stones - 12 X 5

Rolling Stones - 12 X 5
Assim como aconteceu com os Beatles os primeiros discos dos Stones nos Estados Unidos eram bem diferentes da discografia inglesa. Os americanos, mais experientes em marketing, montavam seus próprios discos, geralmente misturando faixas de álbuns diversos dos originais ingleses. "The Rolling Stones - 12 X 5" vai justamente por esse caminho. Foi o segundo disco de estúdio do grupo e foi lançado nos EUA por dois motivos básicos: o primeiro, não se pode negar, foi o imenso interesse que os americanos tinham na época pelo rock inglês após a passagem avassaladora dos Beatles pelo país em sua histórica turnê.

A segunda era o interesse despertado pelos Stones por causa de seu primeiro bom disco lançado na América, esse que animou a gravadora a continuar apostando nos cinco britânicos. O nome do álbum é uma alusão justamente a eles, 12 canções executadas pelo quinteto - 12x5. Seguia o mesmo padrão de um compacto duplo que havia sido lançado recentemente com apenas cinco músicas - intitulado, vejam só, como 5x5.

Por essa época os Stones fizeram sua primeira turnê americana, bem mais modesta e desorganizada do que a dos Beatles. Alguns shows mal agendados, palcos indignos e desinteresse da imprensa foram aspectos negativos que prejudicaram os concertos. Como eram fãs de Blues e Rythm and blues aproveitaram para conhecer alguns de seus ídolos musicais como Muddy Waters, gravando no histórico estúdio da Chess Records em Chicago. Como já afirmei antes sobre as primeiras gravações dos Rolling Stones nem sempre os primeiros registros da banda foram bem realizados do ponto de vista técnico no começo de sua carreira. Os engenheiros de som americanos perceberam isso e fizeram as faixas passarem por um tratamento de remasterização, algo que foi muito positivo pois qualquer disco americano do grupo é muito superior ao que ouvimos nos discos prensados na Inglaterra no mesmo período.

"The Rolling Stones - 12 X 5" prova bem isso. Os instrumentos são bem nítidos, a equalização entre voz e acompanhamento é extremamente superior a qualquer outra coisa que ouvimos nos vinis ingleses. Esse é enfim o grande mérito desses álbuns Made in USA. Se tiver que escolher entre ouvir um vinil inglês ou americano dos Stones pela Decca ou London Records não perca muito tempo, prefira sempre os bolachões do Tio Sam, com certeza.

The Rolling Stones - 12 X 5 (1964)
Lado A
1. Around and Around
2. Confessin' the Blues
3. Empty Heart
4. Time Is on My Side
5. Good Times, Bad Times
6. It's All Over Now
Lado B
1. 2120 South Michigan Avenue
2. Under the Boardwalk
3. Congratulations
4. Grown Up Wrong
5. If You Need Me
6. Susie Q

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

The Beatles - With The Beatles

A primeira composição de George Harrison a entrar em um álbum dos Beatles foi justamente essa gravação de "Don't Bother Me" que ouvimos nesse disco. Claro que com os anos George iria melhorar muito em termos de melodia e letra, mas aqui já demonstra bons sinais de seu talento. Não é uma grande canção, diria que é até mesmo uma criação básica, mas que serviu para quebrar o gelo. Além disso trazia em sua letra aspectos da própria personalidade do "Beatle quieto", afinal uma música que tinha uma mensagem de "Não me perturbe" não poderia ser mais característica do Beatle. Enquanto Paul sempre trazia o lado mais romântico e otimista e John surgia com o rock mais ácido e pessimista, George fazia contrabalanço aos dois, tentando aparecer e se esconder ao mesmo tempo no meio dos dois gênios.

"All My Loving" provavelmente seja uma das canções mais populares desse álbum. Embora muitos a associem a Paul exclusivamente, essa foi uma criação a quatro mãos, com Paul e John trocando ideias face a face. Claro que a letra foi criada quase que exclusivamente por McCartney, baseada em seu relacionamento com a atriz Jane Asher, porém John apareceu dando importantes dicas no desenvolvimento da melodia em si. Para John a canção tal como fora apresentada pela primeira vez por Paul nos estúdios Abbey Road ainda não tinha o pique necessário. Foi John então que a acelerou um pouco, trazendo mais vida para a música. Ficou excelente após a colaboração de Lennon. George Martin decretou após ouvir o primeiro ensaio: "É isso, está perfeita, vamos gravar!". Voltando para a letra seria interessante dar uma olhada em seus versos: "Feche os olhos e eu te beijarei / Amanhã sentirei sua falta / Lembre-se que sempre serei verdadeiro / E quando eu estiver longe / Vou te escrever todo dia / E mandar todo meu amor pra você / Vou fingir que estou beijando / Os lábios dos quais sinto falta / E torcer para meus sonhos virarem realidade".

Eu poderia classificar esse tipo de sentimento presente na letra como um amor adolescente, algo que poderia ter sido escrito por um colegial apaixonado pela garota da escola. Não estou escrevendo isso para desmerecer Paul como letrista, mas sim para salientar como é também arriscado escrever canções de amor para o público jovem. Paul, como bem demonstrou o sucesso da balada, acabou acertando em cheio. Até porque o público dos Beatles por essa época era formado basicamente por jovens histéricas que gritavam pelos membros do grupo nos shows. Foi justamente para essas fãs que Paul escreveu essas palavras. Nada mais complicado do que captar o sentimento dessas garotas em versos e melodia.

Desde o primeiro álbum os Beatles sempre deixavam uma música, geralmente a mais simples, para o baterista Ringo Starr cantar. Virou uma tradição que foi sendo seguida até o último disco. Embora Ringo não tivesse um grande talento vocal, seu timbre de voz era interessante, ideal para rocks mais agitados ou então músicas com sabor country and western. No caso do "With The Beatles" Paul e John reservaram para ele a agitada "I Wanna Be Your Man" que inclusive acabou virando um ponto alto também nos concertos ao vivo do grupo. Ringo sempre muito animado criava um verdadeiro frisson entre as fãs quando mandava ver na apresentação dessa canção. O interessante é que os Beatles não foram os primeiros a gravarem a canção. John Lennon havia dado de presente aos Rolling Stones a música. Eles a gravaram e a lançaram em fins de 1963.

O single com "Not Fade Away" no Lado A foi um dos primeiros sucessos do grupo de Mick Jagger. Talvez esse sucesso todo tenha incomodado um pouco John que resolveu que os Beatles iriam colocá-la em seu novo álbum, algo que os Stones não esperavam. Em entrevistas feitas anos depois John Lennon deixou escapar um certo ressentimento pelo fato dos Rolling Stones terem feito sucesso com uma canção escrita por ele. Chegou até mesmo a desmerecer a música, dizendo que nunca daria algo realmente bom para os Stones gravarem. Foi algo meio rude de sua parte.

"Roll Over Beethoven" era um cover dos Beatles para um velho sucesso de Chuck Berry. Não era surpresa para ninguém que os Beatles adoravam a primeira geração do rock americano, com destaque para Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e claro o próprio Chuck Berry. A letra era uma gozação de Berry para com os críticos da época que diziam que o Rock ´n´ Roll era um tipo de música muito simples, com letras fracas e melodias primárias. Tudo isso era compensado com a vibração da canção. O interessante é que os Beatles poderiam ter incluído nas faixas do disco dois dos maiores sucessos da banda na época como "She Loves You" e "I Want To Hold Your Hand". O problema é que as gravadoras não incluíam músicas lançadas em singles nos álbuns, nos LPs. Um erro que atingiu a discografia não apenas dos Beatles, mas de outros grandes artistas do rock também. Uma forma de pensar equivocada. Sem ter músicas originais inéditas para tantos lançamentos o jeito foi mesmo gravar esse cover, que aliás ficou excelente, recebendo elogios do próprio Chuck Berry.

"Little Child" era uma composição de Paul McCartney, ou como gostava de dizer John Lennon "Uma filha de Paul". O tema romântico, com temática adolescente, era bem a marca registrada do baixista dos Beatles por essa época. Inicialmente Paul pensou em dar a música para Ringo cantar, mas depois desistiu. A letra começa simples, com o autor em primeira pessoa pedindo para dançar com uma garota. Letra simples, bem derivativa dos temas da época. Poderia ter contado com alguma contribuição de John, mas para falar a verdade ele era cínico demais para temas tão pueris como esse."Hold Me Tight" tinha uma pegada bem mais forte. Outra faixa que muitos autores atribuem ao próprio Paul McCartney, muito embora aqui John Lennon também tenha contribuído mais intensamente. Nessa época os Beatles estavam preocupados mesmo em escrever sucessos de rádio, por isso as músicas seguiam uma certa fórmula. Nessa faixa em particular eles repetiram o uso de palmas pontuando o ritmo da canção. O vocal de Paul intercala com John, dividindo o mesmo microfone. Uma música que sempre me agradou, tendo inclusive feito parte também do raro disco "Beatles Again".

"You Really Got a Hold on Me" era um cover. Nesses primeiros álbuns do grupo havia mesmo a necessidade de cantar canções de outros artistas já que os Beatles não tinham tantas músicas prontas para fazer parte do repertório. Paul e John eram até muito produtivos, o que significavam que compunham muitas músicas juntos, mas também tinham um senso crítico muito forte o que deixavam muitas delas fora dos discos. Só entrava o que eles consideravam ter qualidade. A faixa começa com George solando sua guitarra. O ritmo é cadenciado, com toques mais românticos. Algo até esperado já que a música original dos Miracles vinha da safra de artistas negros da Motown, um verdadeiro celeiro de talentos de Detroit, uma gravadora que os Beatles particularmente gostavam muito. A letra é praticamente uma carta de amor de alguém apaixonado por uma garota que não corresponde a esse sentimento (bem adolescente). "Você realmente me pegou" é uma frase que resume. Eu não deveria amar você por tudo, mas quem controla as próprias emoções? Pois é... complicada a situação.

Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências elóicas"

A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção. Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Essa canção "All I've Got To Do" fez parte do disco "With The Beatles", o segundo álbum do grupo na Europa. Já nos Estados Unidos ela foi lançada como parte do LP "Meet The Beatles". Como se sabe no começo da carreira dos Beatles havia uma diferença entre a discografia inglesa e americana. Só tempos depois é que tudo foi unificado, sendo os discos lançados na Inglaterra considerados os oficiais. A canção conta com o vocal principal de John Lennon, com aquela voz bem característica que todos os fãs conhecem. O curioso é que Lennon explicaria anos depois que a música tinha sido uma influência do chamado "som da Motown", a gravadora americana especializada em música negra. John diria que ele estava tentando trazer um pouco da sonoridade de Smokey Robinson, do grupo The Miracles, para os discos dos Beatles. Penso que embora tenha sido esse o objetivo, essa canção romântica tem identidade própria, que resultou igualmente numa boa gravação por parte do quarteto. É simples, romântica e muito eficiente, funcionando muito bem dentro do repertório do disco.

De autoria do compositor Meredith Willson temos "Till There Was You". Ele era conhecido na época de sua auge de sucesso como o "The Music Man" pois era conhecido por escrever grandes sucessos musicais para a Broadway em Nova Iorque e para a indústria do cinema americano na costa oeste. Ele era talentoso e muito solicitado. Acabou se tornando um dos compositores mais ricos da indústria fonográfica americana. Quem trouxe essa bela balada para o disco dos Beatles? Certamente foi Paul McCartney que adorava seu estilo mais Old School. Lembrando que ela ganhou também um belo arranjo nos estúdios Abbey Road, com destaque para o inspirado violão solado por George Harrison e a percussão providenciada por Ringo Starr.

De certa maneira tem um estilo que nos lembra os antigos boleros caribenhos, que naquela época, não podemos deixar de lembrar, estavam em alta, inclusive na Europa e Estados Unidos. Havia muitas boates de sucesso que apelavam justamente para esse lado mais hispânico, caliente, algo que se pode ver em qualquer registro cinematográfico daquele período. Basta lembrar de casas noturnas de sucesso por todos os Estados Unidos como a Tropicana. a Copacabana e a Tropical de Nova Iorque. Será que os Beatles estavam de olho nesse tipo de mercado? Afinal eles vinham de Hamburgo onde trocaram em muitos locais parecidos. É de se pensar nessa hipótese.

Esse segundo disco dos Beatles foi gravado em uma época que o grupo estava cumprindo uma série de obrigações contratuais. Além dos shows havia um contrato onde os Beatles tocavam na rádio BBC de Londres. Assim, para que tudo coubesse dentro dessa agenda apertada, os Beatles decidiram facilitar as coisas. E isso significava usar algumas músicas covers que eles estavam tocando na BBC em seu novo disco. Afinal essas músicas já estavam ensaiadas e os Beatles devidamente familiarizados com essas faixas, poderiam gravar tudo de forma mais rápida. No estúdio não haveria tanto problema em finalizá-las.

"Devil in Her Heart" era um cover nessa linha. Quem sugeriu a gravação foi Paul McCartney. Esse tipo de música os Beatles utilizavam em suas apresentações, pois tinha aquele jeitão de bolero, ideal para os clubes em que os Beatles se apresentavam em seus primeiros anos de carreira. Era aquele tipo de baladona usada para que todos dançassem de rostinho colado. Bem de acordo com os clubes noturnos por onde eles passavam. Tempos duros, mas também de aprendizado nesse tipo de palco. Se a música anterior era romântica e nostálgica, essa "Money" era puro rock ´n´roll, ideal para John Lennon desfilar sua marra de rebelde ao estilo James Dean. Com letra cortante e direta, era aquele tipo de som usado nos shows em inferninhos, quando os Beatles queriam incendiar a apresentação, colocando todos para dançar. Curiosamente "Money" acabou sendo comparada a "Twist and Shout" do primeiro disco. Realmente havia muitas semelhanças. Além de ser um rock pra cima, ainda contava com uma vocalização bem parecida com John Lennon cantando com a voz bem rouca e surrada.

"Not a Second Time" era uma original dos rapazes, com autêntico selo de originalidade da dupla Lennon e McCartney. Houve uma certa discussão dentro do estúdio sobre qual seria o melhor arranjo para a música. Nesse caso George Martin, o produtor das sessões, foi figura importante, dando dicas e contribuindo pessoalmente na seleção de instrumentos, inclusive ajudando em um belo solo no meio da música, algo que a marcou muito. Basta ouvir essas notas, seja tocada em piano ou violão, para reconhecer imediatamente a faixa. O vocal principal ficou com John Lennon, embora a música também fosse ideal para Paul McCartney, caso ele quisesse cantar a música no estúdio.

Panlo Aluísio.