quinta-feira, 10 de julho de 2025

U2 - War

Em relação ao U2 existe uma verdade absoluta: não se pode entender o grupo, seu som e suas letras sem entender suas origens. O U2 é um grupo de rock político desde sempre, mesmo em seus primeiros álbuns já se nota claramente esse aspecto. Embora os anos 80 tenham dado origem a excelentes artistas não há como negar que aquela década também foi o auge do Pop. E o mundo Pop é aquela coisa: se investe muito mais no visual e na imagem dos artistas do que em qualquer outra coisa. O artista pop é uma celebridade por excelência, vide os maiores ícones daqueles tempos, Michael Jackson e Madonna. Ser político, tratar de assuntos sérios naquela época não era fácil, mas o U2 salvou a lavoura daqueles tempos relativamente bem fúteis. Eles deixaram as futilidades de lado e resolveram falar dos problemas políticos de seu país, da barra enorme que era ser um jovem na Irlanda durante a opressão inglesa aos seus cidadãos e à sua liberdade. Não havia espaço para baboseiras, o assunto era sério. 

Um exemplo você pode conferir nesse "War", cujas intenções do grupo ficam evidenciados logo no título. Que artista pop adolescente dos 80´s iria dar o nome de "Guerra" a um disco? Absolutamente nenhum. Assim o U2 rompeu realmente barreiras. O som do grupo e principalmente as letras fugiam do feijão com arroz, das melodias cheias de sintetizadores e dos temas banais do tipo adolescente ama garota, mas garota não o ama. Na época havia também outro fator importante: O Bono ainda não era tão pretensioso e nem queria salvar o mundo como vemos hoje em dia! Ele apenas fazia um som honesto ao lado de seu conjunto e se considerava apenas um membro da classe trabalhadora irlandesa que conseguiu se destacar no cenário musical - e isso era o ápice da vida deles, não salvar o planeta Terra da destruição como vemos agora. Deixando isso um pouco de lado "War" ainda é muito bom musicalmente e não perdeu a força, mesmo depois de tantos anos. O Rock como gênero musical talvez seja um dos únicos que resiste muito bem ao tempo, praticamente nunca ficando datado (com exceções, é óbvio). De qualquer maneira se você não está nem aí para esse tipo de discussão e quer apenas matar as saudades de sua juventude o disco ainda cai muito bem pois está cheio de hits radiofônicos da época, afinal de contas onde mais você iria ouvir o hino "Sunday Bloody Sunday"?

U2 - War (1983)
Sunday Bloody Sunday / Seconds / New Year's Day / Like a Song../ Drowning Man / The Refugee
Two Hearts Beat as One / Red Light / Surrender / 40 / U2 - War (Irlanda, 1983) Produção: Steve Lillywhite / Selo: Island / Data de gravação: 17 de maio, 20 de agosto de 1982 / Data de Lançamento: Fevereiro de 1983 / Músicos: Bono (vocal, guitarra), The Edge (guitarra, piano), Adam Clayton (baixo), Larry Mullen Jr (bateria), Kenny Fradley (trompete), Steve Wickham (violino), The Coconuts (vocais).

"Sunday Bloody Sunday" talvez seja a música mais politizada do U2. Uma letra relembrando o domingo sangrento, quando os soldados ingleses abriram fogo contra manifestantes irlandeses desarmados, parte da população civil que apenas estava reivindicando seus direitos. Um absurdo completo. A harmonia da música inclusive lembra uma marcha militar para destacar ainda mais a indignação dos membros da banda. E pensar que apenas ditaduras atiravam contra pessoas inocentes... a democrática Inglaterra também carregou essa mancha em seu história.

"Seconds" é a segunda canção do disco. Aqui o teor da letra também é político. Nessa mensagem Bono tenta chamar a atenção para o perigo da corrida armamentista entre as grandes potências nucleares da época (Estados Unidos e União Soviética), cada uma construindo mais e mais armamentos nucleares de alta potencialidade destrutiva. Aonda tudo aquilo iria terminar? O ritmo da canção é muito boa, lembrando inclusive a primeira faixa "Sunday Bloody Sunday". O ritmo se desenvolve como uma marcha militar. Outro recado de Bono sobre os problemas que o mundo vivia naquele momento.

A terceira música desse disco acabou se tornando também seu maior hit nas rádios dos anos 80. Se trata de "New Year's Day". Aqui os arranjos já são bem mais caprichados, com destaque para a guitarra duplicada ao fundo. A gravadora farejou sucesso nessa gravação e lançou como single em janeiro de 1983 com a faixa "Treasure (Whatever Happened to Pete the Chop)" no lado B. O sucesso se confirmou. Foi a primeira música do U2 a ter destaque na parada da Billboard nos Estados Unidos. Também foi a primeira música do grupo a entrar na seletiva lista "Top 10" do Reino Unido. Para jovens irlandeses praticamente desconhecidos foi um avanço e tanto na carreira.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Madonna - Madonna (1983)

Esse foi o primeiro disco de Madonna. Ela era uma aposta da Warner para vencer no concorrido mercado pop que naquela época começava a ganhar destaque nas paradas de sucesso. O rock já demonstrava sinais de saturação e com o advento do Heavy Metal ganhava ares de nicho muito específico. As gravadoras por sua vez queriam algo mais genérico e a Pop Music se mostrava muito adequada para isso. Madonna assim foi ao mercado com o firme objetivo de fazer muito sucesso e vender muitos discos. Com uma pose de jovem rebelde sem freios logo conquistou uma legião de fãs, principalmente entre as adolescentes dos anos 80. Usando um figurino próprio e exótico a cantora praticamente criou a imagem da cantora pop que iria ser imitada à exaustão nos anos seguintes. Ao ouvir novamente esse álbum logo descobrimos que dentre todos os gêneros musicais o Pop seja talvez o que tenha a data de validade mais fugaz. Praticamente todas as faixas soam hoje em dia completamente datadas, com arranjos ultrapassados, cheios de sintetizadores que não fazem mais o menor sentido. Mesmo assim para quem foi jovem naquela época o disco ainda funcionará com um belo retrato nostálgico dos 80´s, embora não consiga ser muito mais além disso.

Entre as faixas destacaria "Lucky Star" que tinha um clip bem básico, com Madonna e dois bailarinos com um fundo branco atrás. Nada mais do que isso, apenas dança e o vocal da cantora, sem "estorinhas" a serem contadas. Destaque para o figurino dela. Que cabelo era aquele?! Mas enfim... um típico produto de divulgação da Warner em uma fase pré surgimento da MTV. Como ela ainda não era uma estrela o orçamento desse primeiro clip foi bem econômico. Já o grande hit do disco, "Bordeline", ganhou um clip bem mais elaborado. Ela já havia conquistado a confiança da gravadora com algumas milhares de cópias vendidas. Como era praxe naquela década o enredo é bem bobinho. Madonna no clip interpreta uma garota em duas fases de sua vida, como modelo (onde as cenas aparecem em um preto e branco estilizado, com glamour e cenários bem elaborados) e como uma garota normal, de Los Angeles, que acaba levando o fora de seu crush, um latino de periferia. A letra não é sobre pessoas que sofrem de síndrome de personalidade bordeline, como alguns chegaram a dizer, mas apenas sobre os sentimentos de uma garota cansada de tantos joguinhos com o namorado, vivendo no limite. Nada de desvios psicológicos, é bom salientar. Então é basicamente isso. Um bom LP para a época, com uma Madonna ainda em formação. A grande estrela só iria surgir mesmo pra valer no disco seguinte, esse sim um fenômeno de vendas em todo o mundo.

Madonna - Madonna (1983)
Lucky Star 
Borderline 
Burning Up 
I Know It 
Holiday 
Think of Me 
Physical Attraction 
Everybody.

Pablo Aluísio.

sábado, 5 de julho de 2025

Michael Jackson - Off the Wall

Não é o primeiro disco solo da carreira de Michael Jackson como muitos escrevem por aí. Na verdade Michael já tinha gravado discos solos  antes, quando era apenas um garoto como por exemplo "Got to Be There" e "Ben", ambos de 1972 ainda no selo Motown. Aqui o que temos é o primeiro álbum solo da fase mais magnífica da carreira do cantor quando ele começou a se tornar um artista ícone do mundo pop. Não resta dúvida que a musicalidade desse disco marcou toda uma época. Praticamente todas as faixas viraram hits e Michael começou sua escalada rumo ao Olimpo dos deuses do mundo da música. Seu álbum seguinte, "Thriller" de 1982, se tornaria o disco mais vendido de todos os tempos.

Importante chamar a atenção para o fato de que todos os maneirismos vocais e de performance que Michael iria polir à perfeição no disco seguinte já podem ser encontrados aqui nessas faixas. Em termos de composição Michael ainda se utiliza de outros compositores como o aclamado Stevie Wonder (que escreveu a ótima "I Can't Help It") e Paul McCartney (que tem sua simpática "Girlfriend" do disco "London Town" regravada em excelente versão de Jackson). É um disco coeso, ainda com nuances do movimento Disco que imperava nas paradas daquela época. Um álbum feito para tocar nas rádios e fazer sucesso, algo que Michael Jackson sabia fazer muito bem. / Estúdio Selo: Epic / Produção: Quincy Jones, Michael Jackson / Formato Original: Vinil / Músicos: Michael Jackson, Randy Jackson, Larry Carlton, David Foster, Louis Johnson, John "JR" Robinson, Phil Upchurch, David Williams, entre outros.

Michael Jackson - Off the Wall (1979)
Don't Stop 'Til You Get Enough / Rock with You / Working Day and Night /  Get on the Floor / Off the Wall / Girlfriend / She's Out of My Life / I Can't Help It / It's the Falling in Love / Burn This Disco Out.

Pablo Aluísio.

sábado, 28 de junho de 2025

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
Eu tenho uma relação musical de amor e ódio com o Led Zeppelin. Gosto muito de alguns de seus álbuns e odeio, na mesma proporção, alguns outros trabalhos do grupo. Dito isso, jamais subestimaria a importância dessa banda na história do rock mundial. Eles foram mesmo extremamente marcantes e pelos motivos certos. Um deles ouvimos aqui em seu disco de estreia. Quando comprei esse álbum e o ouvi pela primeira vez, há muitos anos, fiquei com a primeira impressão de que se tratava de um disco de rock dos anos 70. Não era, o disco era dos anos 60!

A conclusão é óbvia. O grupo antecipou a sonoridade que iria prevalecer na década seguinte, se tornando pioneiros nesse estilo de fazer rock. Aliás aqui vai uma verdade que não se pode negar, o Led Zeppelin é uma das bandas de rock mais influentes de seu tempo. Depois que seus discos começaram a chegar no mercado os outros roqueiros foram seguindo seus passos. Eles foram mesmo inovadores nessa que eu costumo chamar de terceira geração do rock. E nessa fase de transição também preservaram os antigos estilos musicais que deram origem ao próprio rock, como o blues que nesse primeiro álbum é muito valorizado. Enfim, fica mais do que bem explicado porque eles marcaram tanto o seu tempo. Estavam mesmo na frente de sua época. 

Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
Good Times Bad Times
Babe I'm Gonna Leave You
You Shook Me
Your Time Is Gonna Come
Black Mountain Side
Communication Breakdown
I Can't Quit You Baby
How Many More Times

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo!

Não foi o primeiro disco de Raul, como muitos escrevem por aí. Na realidade ele já havia tentando antes em pelo menos três discos, um com os Panteras e outro com um quarteto maluco que ele próprio formou e que não deu certo. Esse é sim o primeiro disco solo de sua carreira e também o primeiro em que sua proposta como artista único ficou ainda mais visível. A capa é um horror estético, mas fazia parte do espírito da contracultura daquela época. É incrível notar como a gravadora Phillips deu total liberdade para as maiores maluquices do Raul. Não houve amarras. Talvez por isso esse LP tenha sido tão genial.

Olhando hoje em dia o disco mais parece uma seleção de grandes sucessos. Isso porque vendeu muito e tocou bastante nas rádios. A parceria com Paulo Coelho rendeu clássicos eternos do rock nacional. Os maiores hits do disco sem dúvida foram "Ouro de Tolo", uma paródia em cima da classe média boboca brasileira e "Mosca na Sopa", com toda a baianice inerente do Raul Seixas. Outra faixa marcante foi "Metamorfose Ambulante" que ele havia sido escrito na adolescência e "Al Capone" onde ele usava personagens históricos para ironizar a seriedade da história. Enfim, grande disco do grande Raul Seixas. Esse aqui é uma obra prima da música brasileira.

Raul Seixas - Krig-ha, Bandolo! (1973)
Mosca na Sopa
Metamorfose Ambulante
Dentadura Postiça
As Minas do Rei Salomão
A Hora do Trem Passar
Al Capone
How Could I Know
Rockixe
Cachorro Urubu
Ouro de Tolo

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de junho de 2025

Queen - Queen (1973)

Queen - Queen (1973)
Esse foi o primeiro disco do Queen. Completou 50 anos de seu lançamento original nesse meio de ano de 2023. O tempo passa voando mesmo, meus caros! Ouvir esse disco é também ouvir um grupo iniciante tentando encontrar um caminho a seguir. A metade das faixas foram compostas pelo próprio Freddie Mercury. Inclusive ele resolveu adotar esse sobrenome artístico por causa de uma das músicas do LP que evocava uma senhora, a mãe do Mercury. Não era necessariamente sobre sua mãe, mas uma personagem de ficção. O Freddie havia criado esse mundo imaginário, esse reino da fantasia, onde a maioria de suas canções se passava. Sem dúvida era um artista com muita imaginação e criatividade. 

Não há maiores hits nesse primeiro disco. Quem é marinheiro de primeira viagem na sonoridade do Queen vai passar por todo o álbum, da primeira à última faixa, sem reconhecer nenhuma canção. Normal, pois o sucesso deles nessa época foi mesmo limitado à Inglaterra. Só muitos anos depois, após a consagração mundial do grupo é que finalmente esse álbum seria premiado com disco de ouro nos Estados Unidos, por exemplo. Enfim, embora ainda um tanto crus e inexperientes no estúdio, os membros da banda já mostravam muito potencial nesse primeiro trabalho. O caminho do sucesso já estava começando a ficar bem pavimentado por aqui, nessa estreia. 

Queen - Queen (1973)
Keep Yourself Alive
Doing All Right
Great King Rat
My Fairy King
Liar
The Night Comes Down
Modern Times Rock 'n' Roll
Son and Daughter
Jesus
Seven Seas of Rhye

Pablo Aluísio. 

sábado, 14 de junho de 2025

Eagles - On the Border

Ultimamente tenho ouvido bastante esse álbum. É interessante porque o grupo Eagles é gigante dentro das fronteiras americanas. Um de seus discos se encontra no seleto grupo dos cinco álbuns mais vendidos da história na indústria fonográfica dos Estados Unidos. Só que isso só acontece mesmo entre os fãs de country - rock naquele país. Em outros lugares do mundo, como Europa e Brasil, o Eagles é mais conhecido por Hotel California e olhe lá! É isso não deixa de ser uma injustiça porque foi um grupo excepcional dentro de seu nicho musical. Eram excelentes músicos, tanto de palco como de estúdio, por essa razão mereciam ter maior prestígio nos demais países estrangeiros.

Esse disco em particular tem uma excelente seleção musical. Ele foi lançado originalmente em 1974. Produzido pela dupla de talentosos produtores musicais formada por Bill Szymczyk e Glyn Johns, foi o primeiro disco do Eagles a trazer o jovem guitarrista Don Felder. A capa, trazendo uma bela arte, mostrava uma águia voando no deserto do oeste, com destaque para as formações rochosas do Monument Valley, algo bem no estilo country and western. Minha faixa preferida nesse disco abria o lado B do vinil original. Era "James Dean". O título já entregava o jogo. Uma homenagem do grupo ao ator James Dean, morto em 1955. O refrão retomava o lema de viver rapidamente, sendo muito jovem para morrer. A melodia era aquele tipo de sonoridade que grudava na mente do ouvinte. Colocaram até o som de um carro acelerando para reforçar a mensagem. Ficou muito bom. Outro destaque é a bela canção "Already Gone", que já abria as cortinas do disco em grande estilo.

Eagles - On the Border (1974)
Already Gone
You Never Cry Like a Lover
Midnight Flyer
My Man
On the Border
James Dean
Ol' 55
Is It True?
Good Day in Hell
Best of My Love

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de junho de 2025

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn

A genialidade e a loucura são as duas faces de uma mesma moeda e o fundador e líder do Pink Floyd, Syd Barrett, comprovou isso com sua própria vida. Antes de enlouquecer completamente pelo uso abusivo das drogas lisérgicas tão em moda na época, ele teve tempo de registrar seu talento para a posteridade gravando o primeiro álbum de seu grupo chamado The Piper at the Gates of Dawn. O grupo formado em 1965 já tinha longa tradição no underground britânico, explorando um som inovador e de vanguarda, estando à frente de seu tempo com um som extremamente experimental e ousado. Syd Barrett, à frente do Floyd, não teve medo de arriscar, testando sonoridades, acrescentando sons eletrônicos, fazendo com que o Pink Floyd se tornasse uma experiência única, sem paralelos com nenhum outro grupo de rock da época. Tanto experimentalismo fez com o conjunto só tivesse a oportunidade de gravar seu primeiro disco no final de 1967. Nos estúdios, com todas as possibilidades da tecnologia de gravação à disposição, Barrett levou até as últimas consequências suas idéias.

Na maioria das músicas foi extremamente feliz, embora o excesso de psicodelismo e experimentalismo tenha prejudicado algumas das faixas, como por exemplo "Pow R. Toc H.", maluca demais até mesmo para um sujeito com um parafuso a menos como Barrett. Entre os destaques do disco temos "Astronomy Domine" que iria definir para sempre o som do grupo britânico, trazendo influência a todos os seus álbuns posteriores, com destaque para a obra prima Dark Side Of The Moon; "Interstellar Overdrive" que mostraria o virtuosismo instrumental dos membros da banda, "Chapter 24", uma das faixas mais acessíveis aos ouvintes e a ultra psicodélica "Bike", lembrando muito faixas do disco Sgt Peppers dos Beatles como "Being For The Benefit Of Mr Kite". Infelizmente a fase Syd Barrett iria durar pouco. O líder do Pink Floyd logo iria perder o sentido de realidade, sendo afastado do grupo meses depois. Sem a mente pensante de Barrett os membros restantes do Floyd iriam passar por uma fase de transição, sem saber direito que rumo tomar. Com Roger Waters e David Gilmour à frente do grupo, o Pink Floyd só iria reencontrar seu rumo definitivo anos depois, em plenos anos 70, onde se consagraria com alguns dos discos mais essenciais da história da música, gerando o nascimento do Rock Progressivo. Mas essa é uma outra história, que começou bem antes, aqui nesse álbum, fruto dos delírios geniais de Syd Barrett.

Pink Floyd - The Piper at the Gates of Dawn
Astronomy Domine
Lucifer Sam
Matilda Mother
Flaming
Pow R. Toc H.
Take Up Thy Stethoscope and Walk
Interstellar Overdrive
The Gnome
Chapter 24
Scarecrow
Bike

Pablo Aluísio.

sábado, 31 de maio de 2025

Bob Dylan - The Freewheelin'

Bob Dylan - The Freewheelin' 
Esse é o segundo disco do Bob Dylan. Em minha opinião é o melhor álbum dele em toda a sua carreira. De fato penso que ele nunca mais voltaria a fazer alto tão bom em sua longa discografia. Alguns artistas são assim, acertam logo no começo, já no primeiro ou segundo disco acertam no alvo, determinam o estilo básico que os consagrará no mundo da música, já gravam seus clássicos absolutos, canções pelas quais vão ser lembrados para sempre. É o caso de Bob Dylan nesse LP. Ele acertou logo, em apenas seu segundo álbum. É a sua obra-prima suprema. 

Aliás, concretizando esse ponto de vista, basta apenas pegar o vinil para tocar. Logo na primeira faixa vem o impacto com um das músicas mais conhecidas do Dylan. Estou falando da peça musical Blowin' in the Wind. Aquele tipo de composição que é conhecida até por quem nem curte rock ou sua história. É uma faixa que está no ar, faz parte do inconsciente coletivo da cultura pop. E essa grande abertura é seguida por uma coleção impressionante de grandes momentos do Dylan. O disco mais parece ser uma coletânea. A música Don't Think Twice, It's All Right, que abre o lado B, por exemplo, foi gravada por Elvis Presley uma década depois. Enfim, esse é um dos discos essenciais dos anos 60. Arte pura!

Bob Dylan - The Freewheelin' (1962)
Blowin' in the Wind
Girl from the North Country
Masters of War
Down the Highway
Bob Dylan's Blues
A Hard Rain's a-Gonna Fall
Don't Think Twice, It's All Right
Bob Dylan's Dream
Oxford Town
Talkin' World War III Blues
Corrina, Corrina
Honey, Just Allow Me One More Chance
I Shall Be Free

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de maio de 2025

The Doors - The Doors (1967)

The Doors (1967) - Gravado em quatro canais no mês de agosto de 1966, no Sunset Sound Studios #1 (em Hollywood, CA), lançado oficialmente nos EUA no dia 4 de janeiro de 1967 e produzido por Paul A. Rothchil. Com o estouro de Light My Fire em todo os EUA, o produtor Paul Rothchild, um dos mais conceituados profissionais da Elektra Records, costumava dizer que criou um sucesso em apenas uma semana. E foi isso mesmo. Assim que assinaram com a gravadora, no final de 66, os Doors logo entraram em estúdio e em meros seis dias (com um fim de semana de intervalo) gravaram seu disco de estreia. As músicas escolhidas já faziam parte do repertório que a banda vinha tocando em bares na Califórnia durante um ano inteiro, alternando-se entre composições de autoria própria (apesar de serem todas compostas por Morrison e Krieger, a banda inteira levava o crédito no encarte) e covers (Alabama Song, de Kurt Weill e Bertold Brecht, e Back Door Man, de Willie Dixon).

A sonoridade pode ser descrita como um blues urbano e sombrio, misturando influências da música negra e de elementos totalmente novos no mundo da música pop. Sucesso de público (transformou-se logo em disco de ouro) e muito elogiado pela crítica, o álbum se tornou um dos maiores clássicos da história do rock e colocou Jim Morrison e os Doors entre os maiores ícones pop do século. Este é o primeiro disco da carreira dos Doors. O normal é que todo disco de estreia de qualquer grupo seja pouco ousado, em que os músicos ainda estejam procurando seu próprio caminho, em suma o normal é que o disco de lançamento de qualquer grupo iniciante seja produto de uma fase de experimentação, de inexperiência. Esqueça isso em relação aos Doors. Que banda de Rock coloca uma música como "The End" logo de cara em seu debut musical? Até os Beatles levaram um tempo para deixar a fase "menudos dos anos 60". Sö evoluíram depois, quando deixaram as "musiquinhas idiotas de amor" (como o próprio Lennon se referia, quando falava da primeira fase do conjunto).

Com os Doors isso não aconteceu, eles já começaram detonando meio mundo, colocando por terra qualquer conformismo ou lugar comum melódico. O disco é uma tijolada no cenário rock da época. Um crítico disse que "Gosto dos demais grupos porque entendo o que eles dizem, com os Doors isso não acontece, quem pode entender o que Jim está querendo transmitir?" Pois é, sem dúvida Jim e banda era por demais avançado para a época, e o mais importante eles colocaram as cabecinhas ocas das adolescentes que gritavam pelos Beatles para funcionar! O negócio de Jim era esse: "Pense". Eles surgiram no momento em que os Estados Unidos e o mundo já haviam perdido a inocência. A guerra do Vietnã estava no ar e os Doors eram ouvidos no sudeste asiático pelas tropas americanas aquarteladas no fim do mundo. "Os Doors foram a trilha sonora do Vietnã" disse depois o diretor Oliver Stone. Talvez por isso a guerra tenha ido pelo ralo.

Os Doors fazem pensar, o que definitivamente está fora de cogitação para os militares, que querem que seus soldados sejam simples máquinas idiotas de matar. Então o grupo veio e rompeu com tudo, inclusive com a pasmaceira reinante. Em suma, os Doors foram definitivamente (desculpe a referência por demais óbvia) aqueles que arrombaram as portas da caretice e do marasmo musical do final dos anos 60, que trouxeram novos valores ao asséptico mundo WASP dos EUA. Os Doors cresceram rápido, até porque eles não teriam tempo! Em apenas cinco anos o grupo jogou para o alto qualquer mesmice musical. Fico imaginando em que grupo eles teriam se transformado se tivessem pelo menos mais 10 anos de carreira pela frente. Teriam tirado os Beatles do trono de "banda mais importante da história do rock" ou teriam se tornados "vovôs ridículos posando de adolescentes imaturos" como os Rolling Stones? Esqueça. Filosofia é para Jim Morrison. Não cometerei nenhuma heresia em um site feito para homenagear "A mais inteligente banda de rock da história", o que já é um respeitável título.

 
Singles nas Lojas:

Break On Through (To The Other Side) / End Of The Night: Misture filosofia francesa, pitadas de existencialismo, culto à morte, alucinações psicodélicas e o que você tem? Ora, o primeiro single dos Doors, um dos mais revolucionários e transgressores da história do rock americano. Você só tem a noção exata da singularidade deste single se ouvir outras bandas e artistas americanos da época. Tente comparar essa música com The Mamas and The Papas, por exemplo. São dois mundos completamente diferentes, Jim e os caras da banda parecem ter chegado de Marte! A distância da essência dos Doors e de outros grupos é abissal. Não dá para comparar. Por isso houve tanto rebuliço nos States. Jim literalmente rompeu com o cenário musical da época e fez algo totalmente novo. Por isso tentar classificar e enquadrar o grupo em alguma tendência é bobagem, simplesmente são únicos, sem ninguém parecido por perto. Jim foi nessas canções o que John Lennon gostaria de ter sido, se tivesse uma formação educacional mais sólida, porque ninguém mistura tantas coisas diferentes e relevantes em um só caldo e se sai bem. Tem que ter embasamento intelectual e isso o rei lagarto tinha de sobra. As músicas? Nem vou comentar, tire suas próprias conclusões. Esse aliás sempre foi o recado por trás das músicas dos Doors: "Pense por si mesmo".

Light My Fire / The Crystal Ship: Um dos grandes sucessos da carreira dos Doors, senão o maior. Primeiro houve muita surpresa por parte das rádios americanas pela duração da música. Nos anos 60 uma canção tinha que ter no máximo três minutos e aí chega os Doors e chutam o balde, lançando uma que durava a eternidade (mais de 7 minutos!). Como tocar um troço desses? Mas não teve jeito, eles tiveram que se curvar e colocar a versão completa nos dials. O produtor do grupo ainda fez uma versão menor (abominada por Jim) para que as estações mais comerciais (e mais idiotas) pudessem tocar o sucesso dos Doors. Depois o sacrilégio: Atrás de uma grana fácil os três (fora Jim) venderam os direitos de "Light My Fire" para tocar como jingle no lançamento de um novo carro, o Buick. Jim, é claro, ficou puto da vida e detonou uma TV nos estúdios quando soube! (Essa cena está presente no filme de Oliver Stone). O conjunto estava se tornando justamente aquilo que Jim mais odiava: mero produto descartável da indústria automobilística. Que droga! Bad Trip!

Pablo Aluísio