sábado, 17 de maio de 2025

The Beach Boys - Surfin' Safari

The Beach Boys - Surfin' Safari
A resposta americana à invasão britânica não veio através de grupos ou cantores consagrados, mas sim de um grupo de jovens bem despretensiosos, que cantavam músicas bem simples, com letras louvando uma vida de surf e diversão. O Beach Boys acabou se tornando o grande rival dos Beatles nas paradas americanas. É interessante isso porque eles surgiram no mesmo ano em que os Beatles foram se firmando na carreira. Era 1962 e os dois conjuntos estavam prestes a travar uma batalha pelos primeiros lugares nas paradas americanas. Esse primeiro disco dos Beach Boys mostra bem com era a sua musicalidade nesses primeiros anos de carreira. As melodias eram irresistíveis e os vocais muito bem elaborados. As letras eram invariavelmente monotemáticas, sem nenhuma grande riqueza poética, porém os Beach Boys não posavam de intelectuais. Eles apenas gravavam músicas bonitas, bem melodiosas, para tocar entre os jovens enquanto eles estivessem na praia, esperando para pegar a próxima onda. A Capitol Records, que depois compraria os direitos autorais dos Beatles nos Estados Unidos, resolveu apostar nessa moçada.

O resultado, pelo menos do ponto de vista comercial, foi excelente. Em certos álbuns os Beach Boys conseguiam vender mais cópias que os próprios Beatles ou até mesmo Frank Sinatra, o grande nome contratado do selo. Era surpreendente isso, porém demonstrava que o mercado consumidor jovem era uma potência em termos comerciais. A gravadora ganhou muito, muito dinheiro mesmo com esses discos dos garotos da praia. Esse álbum tinha alguns dos maiores sucessos do grupo. Entre eles a própria faixa "Surfin' Safari". No mínimo era uma mistura esquisita. Safáris se faziam na África, não nas praias da Califórnia. E o que isso tinha a ver com surf? Não importa. O que era importante era o fato de que foi justamente essa gravação que levou os Beach Boys para a galeria dos artistas contratados pela Capitol. Eles enviaram uma fita demo para a Capitol e um dos executivos gostou muito do que ouviu. Ele qualificou a música como o "grande hit do próximo verão"!.

Acertou em cheio. Lançado como single 45 RPM, o disquinho vendeu muito, colocando os Beach Boys entre os 10 mais vendidos da Billboard. Um feito e tanto para um grupo novato e praticamente desconhecido. Foi a porta de entrada para que esse álbum fosse gravado. A Capitol tinha grandes planos para eles.
  
Pablo Aluísio.

sábado, 10 de maio de 2025

Rolling Stones - Rolling Stones (1964)

Muitos anos antes dos mega concertos e das mega turnês os Rolling Stones eram uma bandinha tentando conquistar seu lugar ao sol. Seu primeiro disco, intitulado apenas The Rolling Stones, demonstra bem como um grupo que se espalhava nos Beatles ainda demoraria para encontrar seu caminho musical. O disco deixa surpreendido qualquer ouvinte iniciante que só conheça a banda atual. As músicas são interessantes, porém simples, os arranjos beiram o amadorismo e as composições próprias praticamente não existem pois eles sequer se consideravam compositores na época. Assim somos surpreendidos por diversos covers que vão desde Rufus Thomas (Walking The Dog), Jimmy Red (Honest I Do) até Chuck Berry (numa versão nada memorável de Carol). A gravação deixa muito a desejar, o que nos leva a pensar que a gravadora Decca (a mesma que esnobou os Beatles no começo da carreira) não colocava muita fé nesses ingleses branquelos cantando músicas de blueseiros negros americanos.

A única composição da dupla Mick Jagger - Keith Richard é Tell Me, que passa anos luz da qualidade das músicas de Lennon - McCartney que na época estavam no auge da criatividade musical. Talvez por isso o grupo tenha até mesmo assinado inicialmente a canção por um pseudônimo. O disco, apesar de todos esses pontos contra, alcançou grande sucesso de vendas, chegando ao primeiro lugar britânico, o que fez até mesmo o LP ser lançado nos Estados Unidos, fato raro para uma banda estreante. Porém da mesma forma que acontecia com os primeiros discos dos Beatles os americanos acharam a seleção da edição britânica fraca e colocaram para abrir o LP Ianque outro cover de Buddy Holly, Not a Fade Away. Resumindo o disco em si deve ser descoberto pelos admiradores do rock britânico. Não é um excelente trabalho, de forma alguma, mas mostra como poucas obras como se começa uma longa caminhada com um simples passo. Esse foi o primeiro dos Rolling Stones.

The Rolling Stones (1964)

Lado A
1. Route 66
2. I Just Want to Make Love to You
3. Honest I Do
4. Mona (I Need You Baby)
5. Now I've Got a Witness (Like Uncle Phil and Uncle Gene)
6. Little by Little

Lado B
1. I'm a King Bee
2. Carol
3. Tell Me (You're Coming Back)
4. Can I Get a Witness
5. You Can Make It If You Try
6. Walking the Dog

Pablo Aluísio

sábado, 3 de maio de 2025

The Beatles - Please Please Me

No inicio os Beatles só queriam ser aceitos. Quando chegaram na EMI para suas primeiras gravações eles apenas queriam ser aprovados. O grupo vinha de uma experiência infeliz na Decca onde um executivo mal humorado lhes tinham dito que “Ninguém mais está interessado em grupos de rock como o de vocês!”. Desanimados mas não derrotados os Beatles continuaram sua saga atrás de alguma gravadora que lhes aceitassem. Eles já tinham gravado profissionalmente na Alemanha como o grupo de apoio de Tony Sheridan mas não era a mesma coisa. Eles queriam ser reconhecidos por seus próprios talentos, cantando suas próprias músicas. Na EMI conheceram o educado e simpático George Martin que resolveu dar uma chance ao grupo. Ele comandava o selo Parlophone, especializado em discos de comédias e gravações sem muita importância comercial. Querendo diversificar Martin acabou vendo naqueles rapazes uma promessa. Após as primeiras audições ele percebeu que havia muito trabalho a fazer. Os rapazes eram muito crus ainda. Suas composições eram bem  interessantes mas tinham que ser melhoradas dentro do estúdio. Martin também não gostou muito de seu baterista, o tímido Pete Best. Sugeriu que o usassem apenas nos shows e que dentro do estúdio fosse utilizado o baterista da própria EMI, um músico contratado. John e Paul acreditavam que seria melhor trazer outro músico melhor. Foi assim que Ringo Starr entrou na história dos Beatles.

Please Please Me foi o primeiro álbum da banda. Fruto de muito empenho pessoal de Brian Epstein, o disco de estréia daqueles quatro rapazes de Liverpool finalmente se materializava. A seleção musical misturava covers de outros grupos e cantores com composições próprias de John Lennon e Paul McCartney, os líderes da banda. A música título era uma variação da musicalidade de Roy Orbison pois Lennon era fã do cantor americano. Na primeira vez que ouviu a música George Martin acho seu ritmo muito fora de tom. Depois de conversar com Paul e John finalmente chegou numa boa versão, com ótimo ritmo. No total foram registradas 14 canções, sendo sete delas composições de Lennon / McCarney, uma dupla que criaria nos anos seguintes algumas das canções mais populares do século XX. O disco foi gravado praticamente ao vivo dentro de estúdio. Tudo se resumia em ligar os instrumentos diretamente nos equipamentos de gravação e mandar ver. Por isso não prospera a velha tese de que os Beatles não eram bons ao vivo, que erravam e tocavam mal. Não é verdade. Para entender basta ouvir essas gravações e os registros que os Beatles fariam depois na rádio BBC. Material gravado ao vivo, de ótima qualidade. Na última gravação do dia, “Twist and Shout” a voz de John Lennon estava em frangalhos, o que trouxe uma vocalização única na faixa. Essa aliás acabou sendo uma das mais famosas canções do disco, um símbolo da primeira fase dos Beatles. O disco chegou nas lojas em março de 1963 e logo se destacou nas paradas. O próprio empresário Brian Epstein deu uma forcinha adquirindo um lote completo de cópias para suas lojas de discos, assim os Beatles começariam a aparecer entre os mais vendidos logo nos primeiros dias de lançamento. O resto é história. “Please Please Me” marcaria o começo de uma nova fase na história da música mundial. Uma revolução de proporções épicas. E pensar que tudo isso começou naquela tarde em que os Beatles só desejavam ouvir um “sim” da poderosa EMI.

1. I Saw Her Standing There  (Lennon / McCartney) - Os Beatles abrem seu primeiro disco com essa composição própria. Esse foi um diferencial importante para o quarteto inglês já que desde os primórdios sempre fizeram questão de compor suas próprias canções. Claro que sendo seu primeiro álbum ainda havia uma certa insegurança em lidar apenas com material escrito por eles mesmos, por isso há entre as faixas do disco alguns covers de outros artistas que os Beatles gostavam (fórmula inclusive que se repetiria em seu segundo álbum e que de certa forma seria descartada no disco "A Hard Day´s Night"). Em relação a "I Saw Her Standing There" o que mais importante temos a dizer é que se trata daquilo que gosto de chamar de "música de palco". Aquele tipo de rock feito para levantar o público durante os concertos. Por isso a sequência númerica em sua introdução e a extrema vibração ao longo de todo o número.

2. Misery (Lennon / McCartney) - Durante um certo tempo o grupo pensou em colocar "Besame Mucho" nesse disco, mas a ideia foi afastada por Paul pois em suas próprias palavras isso o retratava como um "músico de cabaret". De uma forma ou outra a sugestão foi colocada de lado, até porque os Beatles já a tinham gravado em outra ocasião, com um resultado abaixo do esperado (falaremos mais sobre isso em outra ocasião). "Misery" foi composta face a face entre Paul e John, porém Lennon a considerava uma criação mais dele do que de Paul. A letra com sabor até mesmo country, já trazia alguns aspectos sombrios e pessimistas que iriam caracterizar bastante a obra de John Lennon nos anos seguintes. Ele aliás costumava brincar dizendo que Paul sempre surgia com otimismo e pensamentos positivos, enquanto ele gostava de adotar posturas mais pessimistas, isso quando não era completamente sarcástico e mordaz.

3. Anna (Go to Him) (Alexander) - Primeiro cover dos Beatles no disco. Essa canção gravada originalmente pelo próprio autor Arthur Alexander no selo Dot Records era apenas uma das dezenas que os Beatles usavam em seus shows. É nitidamente uma balada de bailinho, para se dançar com o rosto colado. Numa época em que o quarteto fazia longas apresentações na Alemanha, algumas delas durante quase quatro horas, era necessário fazer e lançar mão de praticamente tudo que estivesse nas paradas. Como eles tinham tocado muito a música nessas ocasiões resolveram encaixar no álbum, já que seria facilmente gravada - afinal eles já estavam mais do que afiados na execução da canção. Um belo momento romântico do disco que acabou fazendo um considerável sucesso no Brasil já que a canção se chamava "Anna", um nome comum em nosso país.

4. Chains (Goffin/King) - Outra que segue a lógica da gravação anterior. Era mais uma balada que os Beatles já estavam calejados de tanto que a tocaram ao vivo. Para mudar um pouco deram parte da vocalização principal para George Harrison que nessa época ainda não compunha, se limitando a ser apenas o talentoso guitarrista solo do grupo. Também conviver com a enorme sombra de Paul e John não deveria ser muito fácil. Para piorar Lennon o considerava quase como apenas um pupilo, já que a diferença de idade entre eles sempre pesou muito na relação. Mais tímido do que os demais membros do grupo, se assumindo como um Teddy Boy consumado, sem pretensão de bancar o intelectual, Harrison levaria ainda alguns anos para se firmar como mais um elo criativo dentro dos Beatles.

5. Boys (Dixon / Farrell) - Ringo Starr nunca foi o melhor cantor do mundo. Na verdade ele destruiu algumas canções dos Beatles, como por exemplo, "Good Night" do White Album, que exigia uma voz mais suave e melódica. Lá infelizmente Ringo não tinha o timbre adequado. Na verdade seus talentos como cantor se enquadravam bem em countrys e rocks mais agitados. Em "Boys" deu certo. A música, um rock com muita vibração, caiu como uma luva para sua voz rústica da classe operária de Liverpool. Curiosamente, por causa da pressa em que o álbum foi gravado (afinal tempo era dinheiro para a EMI), "Boys" ficou pronta em apenas um take, gravado ali, ao vivo, com todos tocando juntos. Por isso muitos qualificam esse primeiro disco dos Beatles como um "disco ao vivo gravado em estúdio" (por mais contraditória que essa expressão possa parecer). 

6. Ask Me Why (Lennon / McCartney) - Por muitos anos, por ser uma baladinha, "Ask Me Why" foi considerada uma filha de Paul. Afinal ele sempre foi o grande compositor de músicas românticas dos Beatles. Anos depois porém o mistério foi decifrado pois ao que tudo indica a canção foi escrita quase que noventa por cento por John Lennon. Paul apenas deu retoques finais em sua melodia. Uma surpresa encontrar uma música tão terna provindo do áspero John Lennon. Por ter uma boa sonoridade e vocação para as paradas o produtor George Martin a colocou como lado B do single "Please, Please Me". Uma decisão acertada já que a outra canção que os Beatles queriam colocar no segundo lado do compacto era muito fraca mesmo. Essa música chamada "Tip of My Tongue" foi assim deixada de lado pelo grupo.

7. Please Please Me (Lennon / McCartney) - Inicialmente essa música tinha uma pegada à la Roy Orbison. Era chorosa e com ritmo bem delicado, quase parando. George Martin ouviu a música nesse estilo e não gostou. Na verdade ele queria que os Beatles gravassem outra música naquele dia. Os rapazes porém insistiram em gravar uma composição própria e não "How Do You Do It", a preferida do produtor. Sob sugestão de George Martin finalmente chegaram um consenso. Os Beatles aceitavam acelerar mais a velocidade da música e em contrapartida George Martin topava colocar a canção como carro-chefe do próximo single dos Beatles. E assim foi feito. É um dos grandes clássicos do grupo, embora o tempo a tenha deixado um pouco datada hoje em dia.

8. Love Me Do (Lennon / McCartney) - Essa música abria o antigo lado B do disco. "Love Me Do" é o verdadeiro estopim da carreira dos Beatles, a canção que os colocou no mapa. John e Paul a criaram ainda na Alemanha, por volta de 1958 ou 1959 (nem eles sabiam direito). Por anos a canção fez parte do repertório de shows do conjunto, afinal eles sempre tiveram especial orgulho de suas próprias composições. Quando pintou a primeira grande oportunidade de gravar em uma grande gravadora (a EMI) eles nem pensaram duas vezes e sugeriram a George Martin sua "obra prima" Love Me Do. A primeira gravação contou com Pete Best na bateria, mas Martin achou seu desempenho medíocre - o que indiretamente abriria o caminho para Ringo Starr entrar nos Beatles. Revista hoje em dia talvez possa ser considerada a mais pueril música do grupo, afinal de contas eles eram apenas garotos quando a criaram.

9. P.S. I Love You (Lennon / McCartney) - Esse é aquele tipo de música que você tem a clara impressão que já ouviu antes, com outros artistas. Paul e John eram acima de tudo grandes fãs de música americana e assim eles de certa forma compilaram nessa canção alguns clichês que faziam parte do repertório dos principais grupos que gostavam e ouviam. Derivativa, mas muito charmosa, "P.S. I Love You" vence a luta contra o lugar comum por causa de sua bela melodia e pelos bons arranjos vocais que a acompanham desde o começo. Aqui não há muito o que discutir pois é uma composição de Paul McCartney que já demonstrava desde muito cedo ser um letrista excepcional para canções e baladinhas românticas. Também é uma velha conhecida dos fãs do grupo já que os Beatles a usaram de forma exaustiva nos palcos de Liverpool antes de sua gravação. Acabou sendo escolhida por isso para ser o lado B do single inglês "Love Me Do" por George Martin.

10. Baby It's You (David / Williams / Bacharach) - Esse é um cover dos Beatles para um sucesso do The Shirelles, um grupo vocal negro formado por maravilhosas cantoras que conseguiram se tornar o primeiro grupo feminino afro-americano a atingir o topo de sucessos da Billboard Hot 100, um feito incrível para os anos 1960, principalmente em uma sociedade com tantos problemas raciais como a norte-americana na época. A versão dos ingleses cabeludos segue praticamente passo a passo a gravação das garotas do Shirelles. Não há grandes diferenças entre as duas versões. Foi colocada no álbum por sugestão de John Lennon que estava muito interessado no som de grupos negros, principalmente os que faziam parte do elenco de artistas da gravadora Decca.

11. Do You Want To Know A Secret? (Lennon / McCartney) - Uma canção escrita por Paul e John baseado no famoso clássico Disney "Branca de Neve e os Sete Anões". Fazia parte das memórias afetivas de Lennon, pois sua mãe Julia costumava cantar as canções do filme para ele quando ia dormir. Embora seja tão pessoal, Paul também contribuiu muito, criando inclusive o pegajoso refrão. No estúdio eles acabaram por se decidir em dar a música para George Harrison cantar. Inicialmente Paul a gravaria, mas John achou por bem que todos os membros do grupo tivessem ao menos uma música como vocalista principal nos discos dos Beatles. Muitos anos depois, um pouco irritado com George Harrison por causa dos problemas com a Apple, John afirmou com sua conhecida veia mordaz que havia dado a música para Harrison cantar como uma "espécie de esmola" já que ele não era considerado um bom cantor pelo restante do grupo. Segundo Lennon: "Do You Want To Know A Secret tinha apenas três notas e ele (George Harrison) não era o melhor cantor no mundo".

12. A Taste of Honey (Scott / Marlow) - Talvez seja a pior faixa do álbum, com um arranjo vocal muito pretensioso que hoje em dia soa desconfortável aos ouvidos. Seu exótico ritmo talvez se explique pelo fato da mesma ter sido composta baseando-se em uma peça teatral de sucesso na época. Daí vem sua dramaticidade. A versão dos Beatles é apenas ok. Provavelmente foi colocada no disco para preencher mais espaço e tempo, afinal o álbum foi planejado para ser lançado com quatorze músicas, o que era acima da média na indústria fonográfica daqueles tempos. O mais comum eram discos com dez ou no máximo doze faixas. Muito provavelmente George Martin tenha lotado o disco de canções como forma de convencer o consumidor a comprar o LP de estréia daqueles jovens novatos.

13. There's A Place (Lennon / McCartney) - A última canção composta por Paul e John em seu disco de estréia. Mais uma que foi inspirada no cinema. Aqui Lennon apenas aproveitou uma frase da música "Somewhere" do filme West Side Story que dizia: "Somewhere there's a place for us". Já que havia em algum lugar um cantinho para esses jovens apaixonados viverem felizes, John completou a ideia com uma afirmação de que, sim, havia mesmo um lugar para eles. Não seria necessariamente um lugar físico, poderia ser apenas uma abstração na própria mente, onde eles viveriam felizes, mas de fato esse lugar existiria. Gosto muito dessa letra pois já mostra um lado de John em que ele imagina um lugar ideal (ecos da futura Imagine? Pode ser). Ele provava assim que desde jovem já tinha uma visão bem abstrata do mundo ao seu redor. 

14. Twist and Shout (Medley / Russell) - A sessão de gravação do disco já estava em seu final quando os Beatles puxaram um último fôlego para finalizar essa música. A voz de John Lennon já estava em frangalhos, o que de certa forma acabou combinando com a essência da música em si. Além disso a forma como John canta a música acabou lhe dando sua característica mais conhecida. Depois que foi utilizada na trilha sonora do filme "Curtindo a Vida Adoidado" acabou ficando ainda mais conhecida e famosa para as novas gerações. No geral é aquele tipo de rock mais visceral que John Lennon queria trazer para os discos dos Beatles, afinal de contas ele próprio se auto intitulava "uma velha orquestra de rock ´n´ roll".

The Beatles - Please Please Me (1963) - John Lennon (vocal, guitarra e gaita) Paul McCartney (vocal, backing vocal e baixo) George Harrison (guitarra, vocal e backing vocal) Ringo Starr (bateria, vocal e percussão) / Produzido por George Martin / Data e Local de Gravação: Abbey Road Studios - 11 de Setembro de 1962, 26 de Novembro de 1962 e 11 de Fevereiro de 1963 / Data de Lançamento:  22 de Março de 1963 (mono) 26 de Abril de 1963 (estéreo) / Singles extraídos desse Álbum: 1."Love Me Do" Lançamento: 5 de Outubro de 1962 / 2."Please Please Me" Lançamento: 11 de Janeiro de 1963 / 3."Twist and Shout" Lançamento: 2 de Março de 1964 / 4."Do You Want To Know A Secret" Lançamento: 23 de Março de 1964 / 5."Baby It's You" Lançamento: 20 de Março de 1995.

Pablo Aluísio.

sábado, 26 de abril de 2025

Frank Sinatra - Swing Easy!

Quando Frank Sinatra foi para a gravadora Capitol ele queria mesmo mudar, procurar por novos rumos. Com um contrato que lhe dava plena autonomia na gravação de seus discos ele começou a planejar cuidadosamente cada álbum. Os LPs da carreira de Sinatra na Capitol eram extremamente pessoais pois ele pensava me praticamente tudo, da seleção musical às capas, dos arranjos aos menores detalhes. Tudo partia de Sinatra e tinha que passar por ele antes de qualquer decisão definitiva. De certo modo Sinatra era visto quase como um tirano pelos executivos da gravadora, mas havia uma clara razão para isso: Sinatra almejava a perfeição e acima de tudo o sucesso. Sua fase na Capitol é para muitos críticos não apenas a mais comercial de sua carreira, como também a mais criativa, pessoal e brilhante de Sinatra. Ele suavizou tudo, desde seu visual até às próprias canções, procurando por um repertório agradável que soasse bem aos ouvidos do homem comum da América.

Esses álbuns da Capitol não foram pensados e nem criados para um público mais erudito. O próprio Sinatra dizia que os realizou para o trabalhador comum que precisava relaxar na sala de sua casa após um dia duro de trabalho. Por essa razão notamos em praticamente todos os discos dessa fase essa suavidade agradável que tanta caracteriza esses trabalhos musicais. A intenção de agradar era tamanha que Sinatra resolveu abrir algumas sessões de gravação para o público e jornalistas. Alguns fãs eram escolhidos pela produção de Sinatra, além de críticos musicais de renome. Todos acompanhavam o método de trabalho do cantor atrás dos microfones.

O mais curioso é que Sinatra acabava criando uma relação com essas pessoas, quase como se estivesse perante um grande público. Entre um gole e outro de café ele ia cantando, contando piadas ou histórias engraçadas, enquanto interagia com seus músicos (apenas os melhores, escolhidos a dedo por Sinatra e o produtor Nelson Riddle entre as principais big bands americanas da época). Frank geralmente escolhia um horário especial para trabalhar (entre oito da noite à meia-noite). Nesse meio tempo ele dava o melhor de si, entretinha os convidados, tudo em um clima muito íntimo e aconchegante. O resultado? Um dos discos mais simpáticos e de fácil digestão do velho Sinatra. Uma verdadeira preciosidade que não pode faltar em sua coleção de (boa) música.

Frank Sinatra - Swing Easy! (1954)
Just One of Those Things
I'm Gonna Sit Right Down (And Write Myself a Letter)
Sunday
Wrap Your Troubles in Dreams
Taking a Chance on Love
Jeepers Creepers
Get Happy
All of Me

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de abril de 2025

Little Richard - Here´s Little Richard

Little Richard - Here´s Little Richard 
Procurem conhecer bem a capa desse disco. Agora imaginem seu impacto na sociedade racista dos Estados Unidos da década de 1950. Um negro, nada discreto, com a boca escancarada, cheia de dentes, gritando de forma estridente! Mais “Little Richard” do que isso impossível! A capa de “Here´s Little Richard” é certamente uma das mais ousadas e provocadoras da história do Rock! E vai bem de acordo com a trajetória dessa figura fantástica da primeira geração de roqueiros americanos. Poucos artistas viveram de forma tão intensa o espírito do Rock quanto Little Richard. Ele por si só já era um poço de escândalos e contradições! Negro, desafiava a sociedade da época com roupas luxuosas, espalhafatosas e berrantes! Alucinado, gritava a plenos pulmões sua música despudorada, embora na época os negros fossem tão reprimidos que mal podiam abrir a boca sem autorização dos brancos. Profundamente religioso conseguia ser ao mesmo tempo um homossexual sem pudores, escandalizando a todos por onde passava. Cristão agia de forma pouco modesta e humilde, se auto intitulando o “maior roqueiro da América”!  No fundo Little Richard era mesmo uma figuraça!
  
Esse foi o primeiro álbum da carreira do roqueiro e só tem clássicos! É incrível mas basta ler a lista das músicas para se ter uma noção da quantidade de grandes clássicos da história do rock presentes aqui: “Tutti Frutti”, “Ready Teddy”,  "Slippin' and Slidin'", "Long Tall Sally", "Rip It Up", “Jenny, Jenny” entre outras. É muito standart para um álbum só! E o mais incrível de tudo é saber que a grande maioria dessas canções foram compostas pelo próprio Richard Penniman (o nome real do cantor). Realmente impressionante. Como não era dado a modéstias, Little Richard trabalhou ao lado de uma super banda com mais de 20 músicos ao longo de todos aqueles anos. O selo era pequeno, uma pequena gravadora especializada em música negra chamada Specialty Records, mas isso não impediu o disco de vender muito naquele mesmo ano. Claro que muitas das canções já tinham chegado antes no mercado no formato single mas isso não retira o impacto desse primeiro álbum de Little Richard. Era de certa forma uma apoteose de tudo o que ele vinha produzindo até então. Um retrato perfeito de um artista marcante que se tornou um ícone naqueles anos pioneiros do Rock americano. “Here´s Little Richard” é de fato um item obrigatório na coleção de qualquer roqueiro que se preze!

Little Richard - Here´s Little Richard (1957)
Tutti Frutti 
True Fine Mama 
Can't Believe You Wanna Leave 
Ready Teddy    
Baby 
Slippin' and Slidin' 
Long Tall Sally 
Miss Ann 
Oh Why? 
Rip It Up 
Jenny, Jenny 
She's Got It

Pablo Aluísio. 

sábado, 12 de abril de 2025

Chuck Berry - After School Session

Chuck Berry foi um poeta da geração jovem da década de 50. Através das letras de suas canções ele procurou cantar o universo de um adolescente da época. Suas canções geralmente falavam de assuntos triviais mas muito importantes para quem tinha seus 16, 17 anos. Em suas músicas temas como garotas, namoros, escola e carrões estavam sempre presentes. Ao longo da vida Berry criou um estilo próprio, sendo considerado até hoje um dos mais criativos guitarristas e compositores da história do rock. De fato poucos tiveram tanto talento em escrever riffs aparentemente simples mas muito bem elaborados. Os solos de Berry são inconfundíveis, formando uma sonoridade que fica na mente de quem ouve para sempre. Basta ouvir uma vez para ser fisgado! Assim não é de se admirar que tenha composto tantos sucessos no começo de sua carreira. Esse seu primeiro álbum na carreira traz um exemplo perfeito disso. O disco é composto basicamente por canções gravadas nas primeiras cinco sessões de estúdio do artista na gravadora Chess e mostra todas as características que fizeram de Berry um dos nomes mais importantes do surgimento do rock´n´roll americano.

Chuck Berry nunca foi uma pessoa fácil de se controlar e essa característica ele aprendeu pelas gravadoras pelas quais passou. Sua passagem na Chess Records foi seguramente sua fase mais inspirada. Nessa gravadora ele colecionou hits após hits, todos lançados em singles de grande sucesso comercial. Para um cantor negro como ele na década de 50 um single de sucesso era tudo o que se procurava alcançar pois isso geralmente significava mais shows e com mais shows mais grana ele conseguia ganhar. Pois Berry não conseguiu apenas um single mas vários, em sequência. Infelizmente como ele próprio definiu anos depois tudo o que conseguiu por essa época foi ser literalmente roubado por empresários e donos de gravadora. Sempre às turras com esse pessoal, Berry não foi consultado nem sobre esse seu primeiro álbum, cujas faixas foram escolhidos à sua revelia. De qualquer modo esse “After School Sessions” é um joia da fase artística mais inspirada de Berry com canções fantásticas que até hoje inspiram as novas gerações de roqueiros. Um disco maravilhoso de um artista numa fase comercialmente conturbada de sua carreira mas artisticamente muito produtiva em sua vida.

Chuck Berry - After School Session (1957)
School Days / Deep Feeling / Too Much Monkey Business / Wee Wee Hours / Roly Poly (Rolli Polli) / No Money Down / Brown Eyed Handsome Man / Berry Pickin / Together (We'll Always Be) / Havana Moon / Downbound Train / Drifting Heart / You Can't Catch Me * / Thirty Days (To Come Back Home) * / Maybellene * / * Faixas bônus do lançamento em CD.

Pablo Aluísio.

sábado, 5 de abril de 2025

Bill Haley and His Comets - Rock Around the Clock

Bill Haley é costumeiramente citado em enciclopédias e livros sobre história da música como o “pai do rock”, um músico que revolucionou o cenário cultural dos Estados Unidos ao emplacar o primeiro grande sucesso comercial do novo gênero que nascia, “Rock Around the Clock”, uma mistura de estilos que o radialista Alan Freed batizou de “Rock ´n´ Roll”. Bom, certamente Haley não foi o criador do rock, na realidade não existe “um pai do rock” propriamente dito pois essa nova música foi certamente uma inovação coletiva, difusa, mesclando novidades de vários artistas diferentes que se aproveitaram da nova sonoridade para cair nas graças do público consumidor. 

Bill surgiu no mundo country, ainda na década de 1940, pois era em essência um cantor de bailes – como aqueles que vemos em filmes nostálgicos que retratam os costumes daqueles “anos dourados”. Conforme o tempo foi passando ele descobriu que o R&B negro sempre tinha boa repercussão entre as plateias brancas. Como a primeira obrigação de Bill era entreter seu público acima de tudo, ele foi aos poucos incorporando o novo som em suas apresentações. Usando elementos do som negro ele acabou os fundindo com seu som mais country. Não é à toa que o rock sempre é identificado como a mistura de country, gospel e blues (ou mais especificadamente R&B).

Bill sabia disso e assim como muitos outros artistas de seu tempo ele se aproveitou dessa idéia em beneficio próprio. Em última instância ele apenas fez parte de uma tendência que vinha de todos os lados, seja de artistas negros ou brancos. O resultado dessa fusão de gêneros pode ser conferido muito bem nesse terceiro álbum da carreira do “Glenn Miller do Rock” (outro de seus títulos, uma clara referência ao seu passado de cantor de bailes e festas). Como era de se esperar Bill tem aqui reunidos alguns de seus maiores sucessos. O cantor passou quase toda a sua carreira na Decca Records, uma gravadora que se notabilizou por grandes erros cometidos em sua história (eles dispensaram, por exemplo, os Beatles em um teste afirmando que “bandas masculinas estavam com os dias contados!”). Mas voltemos ao Bill Haley. O repertório desse álbum capta aquele que seria o melhor momento de toda a carreira do cantor. Infelizmente sua verve mais criativa durou poucos anos – após seu sucesso inicial Halley pouco produziu de novidade preferindo viver de glórias passadas como um artista nitidamente revival, vintage. Não faz mal, aqueles poucos anos certamente valeram a eternidade para Bill Haley e seus Cometas!

Bill Haley and His Comets - Rock Around the Clock (1955)
Rock Around the Clock
Shake, Rattle and Roll
A.B.C. Boogie
Thirteen Women
Razzle-Dazzle
Two Hound Dogs
Dim, Dim the Lights
Happy Baby
Birth Of The Boogie
Mambo Rock
Burn That Candle
Rock-A-Beatin' Boogie.

Pablo Aluísio.


terça-feira, 1 de abril de 2025

Elvis Presley - Volume 1

Elvis Presley - Volume 1
Estamos lançando nessa semana o primeiro livro sobre Elvis Presley. Esse volume 1 traz muitas informações sobre os primeiros discos e filmes da carreira de Elvis. Será uma coleção de livros sobre Elvis daqui em diante. Nosso plano é de lançar um novo volume a cada seis meses, para no final termos uma coleção completa de textos sobre o cantor. Um material realmente muito bom. Abaixo segue a sinopse do livro e os endereços para adquirir seu exemplar. 

Elvis Presley
Nesse primeiro volume escrito por Pablo Aluísio, o leitor é apresentado aos primeiros discos e filmes da carreira de Elvis Presley. Um resgate com muitas informações, fruto de uma pesquisa que durou anos por parte de seu autor. Essa é a história do jovem artista que revolucionou o mundo da música desde os seus primeiros anos de fama, sucesso e impacto cultural. 

Links para comprar

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Pablo Aluísio.